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No livro pareceu melhor...

Eu sei que muitos devem estar cheios desta afirmação. Repetitiva, mas neste caso perfeita. O livro de Eça de Queiroz é maravilhoso. O filme de Daniel Filho ("A partilha", "Se eu fosse você" e "A dona da história") é medíocre. Sem exageros, este adjetivo define bem o filme, afinal ele passa despercebido, sem deixar marcas, reflexões, sorrisos ou lágrimas... nada. Na trama do livro, as emoções se misturam. Chega-se até a sentir realmente pena da situação que vive a personagem central Luísa.


O romance publicado em 1878 é uma análise da família burguesa urbana no século XIX. E faz isso com todo o brilhantismo do escritor. Consegue-se sentir asco a todo aquele provincianismo e falso moralismo. Tudo é recriado de uma forma muito interessante - assim como em "O crime do Padre Amaro". Os conflitos psicológicos da mimada Luísa não aparentam ser faniquitos como no filme. A relação dela com o marido e a amiga Leonor (bem reconstruída por Simone Spoladore) é muito mais interessante, além de ser um espelho da situação vivida pelas mulheres no fim do século XIX. Por deficiência de criação ou por limitação dos rolos de filme em relação ao livro, na história de Daniel Filho isto se torna insosso.

Na tela, tudo acontece mais rápido do que deveria, já na primeira sequência Luísa se encontra com Basílio. O relacionamento ente os dois se inicia em menos de 15 minutos. Parece que havia uma pressa repreenssível de gastar a fotografia das cenas que envolvem o enlace amoroso. Isso é pequeno diante de tudo o que o livro representa, pode acreditar. Ah, mas uma coisa não esqueçamos. A Juliana de Glória Pires ficou ótima. Ou seria melhor dizer, repugnante. Ela conseguiu o ponto certo para a empregada invejosa, prosaica e, até certo ponto, engraçada e digna de pena. Em relação à Débora Falabella ("A dona da história" e "Lisbela e o prisioneiro"), como em todas as outras ocasiões, tem técnica, mas é extremamente sem sal. Isto, transposto para suas personagens, atrapalha bastante para uma trama - intensa por natureza - a ser convincente. Reynaldo Gianecchini ("Sexo com amor?") por mais que doa dizer isto, tem uma passagem burocrática. E Fábio Assunção ("Sexo, amor e traição") está bem como um conquistador barato e canalha. Se quiser se arriscar, irritado não dá para ficar, agora nem pense em um filme antológico como foi o livro. Não tem aquela sensação "Tá, tudo bem, mas está faltando alguma coisa"? Então, ela cai como uma luva.

Grata, s'excuser pour l'excès de digression. E por favor apaguem a luz.

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Voltando para casa!

Aos meus raros (mas fiéis) leitores, um comunicado oficial! Estou voltando à caminhada bloguística com todo o vapor! Desta vez desacompanhada (como desde o começo). Esperem de mim uma jornada ainda mais intensa! Prometo que vou justificar meu último post e falar de cinema brasileiro. Prometo que vou justificar o nome do blog e falar de música! Nossa, parece que virei candidata a alguma coisa! Abraços e afagos!

E logo, logo, criarei meu blog de contos!

Grata, s'excuser pour l'excès de digression. E por favor apaguem a luz.

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Período de ausência!

Mais uma vez as outras atividades da minha vida atrapalharam o fazer bloguístico! Aos meus pouco (mas queridos e importantes) leitores, um até logo! Estou cheia de saudades e voltarei a postar assim que tiver tempo! Eu juro!

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E os brazucas, cadê?




De todos os blogs que já fiz (e desfiz), esse me suscitou uma confissão: é o que mais gosto de todos. Afinal, trata-se do meu principal vício saudável, o cinema, de forma majoritária (se não total). No entanto, faltava alguma coisa. Se pensou que eu estava falando dos textos da minha companheira de blog, se enganou (pelo menos parcialmente). Falo do CINEMA NACIONAL. Eu, uma quase nacionalista, porém desiludida, não poderia deixar as produções brauzucas de fora. Além da minha frase-bandeira ("Um país sem cinemas é uma casa sem espelhos" Luiz Carlos Barreto) que é uma ode à representatividade e relevência da atividade cinematográfica de cada país.
Muitas coisas me deixam chateada na forma com que o cinema é produzido no Brasil. A questão dramática de como o dinheiro público é aplicado é um dos problemas. Segundo Jorge Furtado, no Brasil, o cinema é feito "para os ricos com o dinheiro dos pobres". E é uma proposição cruel, mas verdadeira. Não sou nenhuma expert nessa área de captação de recursos. Mas conheço um pouco da
Lei do Audiovisual e vendo como funciona... ou como não funciona. Outro dia mesmo, saiu uma matéria no "O Globo", falando do abandono da Agência Nacional de Cinema (Ancine). A realidade da área cultural do nosso país (como de todas as outras) é de luta, mas é extremamente complicada. Se alguém já assistiu "Celeste e Estrela" sabe do que estou falando.
... continua

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Uma conjugação de fatores bem trabalhados, mas o ápice é o Coringa





Quais seriam as premissas para a constituição de um verdadeiro herói? Algumas características como: a abnegação de uma vida pessoal, a inexistência de vaidade, os sacrifícios múltiplos pelo bem do mundo ou, mais especificamente, de uma cidade – no caso de Batman, Gotham, entre outras provações parecem ser necessárias para a construção e aceitação pelo público desse ser mítico. Esse é um dos pontos que gera mais expectativa na exibição de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, Bruce Wayne continua renunciando ao seu grande amor, Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal, de “Mais Estranho que a Ficção”), para defender Gotham City ou cede seu posto de eterno guardião ao promotor – inicialmente bom moço – Harvey Dent (Aaron Eckhart, de “Obrigado por Fumar”).


Podemos dizer que os heróis estão “em crise”. Assim como o Peter Parker (em Homem Aranha 2), Bruce Wayne oscila no momento em que lhe parece imperativo desmascarar seu alterego. E isso ocorre por conta de uma série de reflexões morais do homem-morcego, originadas pelas ameaças do protagonista, quer dizer, do vilão Coringa (Heath Ledger, de O Segredo de Brokeback Mountain). Aliás desde antes da sessão de pré-estréia ficou evidenciado que o grande astro do filme era inegavelmente Ledger.








Seu desempenho como um Coringa perturbado de maneira horripilante, no entanto extremamente cômico, foi muito próximo da perfeição. Diria mais, foi o melhor “Joker” de todos – que me perdoe Jack Nicholson, já que o ator revelou há tempos em entrevista dada à MTV, que teria ficado “furioso” com a substituição.

Há sucessivos acertos na produção do novo filme do herói da escuridão. Tem-se a impressão de que Cristopher Nolan (Batman Begins, O Grande Truque) estava em dias de muita sorte ou que simplesmente ele tem absoluto talento. As suas escolhas não poderiam ter sido melhores. Ao optar por Maggie Gyllenhaal, como Rachel Dawes, por Heath Ledger, como Coringa e por conservar ases como Morgan Freeman e Michael Cane (o fiel mordomo Alfred e o escudeiro Lucius Fox), Nolan teve brilho e sagacidade.

As reflexões do filme, ouso dizer, chegam a ser universais. Os dramas psicológicos e morais das personagens são trabalhados de forma magnífica. Afinal estamos falando de um roteiro denso e obscuro, baseado na HQ (de nome “O Cavaleiro das Trevas”) de Frank Miller. Há momentos muito emocionantes durante a narrativa, chegamos a deixar de lado o fato de se tratar da mais pura ficção. Tornamo-nos tão suscetíveis quanto os mais ávidos fãs leitores dos quadrinhos de Batman, sem notar. Para logo depois mergulhar na mais pueril gargalhada proporcionada por diálogos leves ou pelas piadas mórbidas do “palhaço do crime”.
Efeitos especiais devidamente utilizados só aumentam a satisfação de quem assiste. É o melhor blockbuster lançado até hoje sem a menor sombra de dúvida. Porém, não há como fugir de um clima de melancolia, pois saímos do cinema sentindo saudades das atuações de Heath Ledger que não iremos ver.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Liberte sua mente


Diante do fenômeno Matrix, darei o braço a torcer. Porém antes devo explicar o motivo de minhas restrições com relação à saga de maior sucesso dos irmãos Wachowski. Há algum tempo tentei assistir Matrix e, assim como quando vi Star Wars, acabei dormindo. É raro que algum cine-fanático como eu durante a exibição de filmes da "amplitude cinematográfica" desses dois. Minha conclusão foi: "essa definitivamente não é a minha". E deixei de lado. Mas não por muito tempo.

Soma-se aos contras (na formação de minha opinião a respeito do filme), o fato dele ser um marco no trabalho com um gênero narrativo rocambolescamente digital-futurista. Gênero do qual eu fujo, quase sempre.

No entanto, sou uma pessoa que gosta de se despir de preconceitos. E seguindo essa linha de pensamento, de cunho auto-meliorativo, tenho como resolução assistir todas as minhas cismas mais de uma vez. Tenho concretizado essa vontade com algumas delas.

Matrix é o filme da vez; revisitei e gostei. Para isso, tive de alcançar um olhar diferenciado, mais atento e mais receptivo. Para alguém que pensa como eu, isso é definitivamente necessário. Diria primordial; há de se abstrair. Afinal estamos falando de uma trama de imaginação bem fértil, mas que não se limita a explodir tudo na tela de forma desatinada. Os artifícios de efeitos visuais vêm para complementar e sustentar esse enredo insólito.

Um dos quesitos que mais me agradou na película foi que, em contraposição a outras do mesmo tipo, as explicações teóricas oferecidas são boas. Por serem extremamente coesas e coerentes (na medida do possível), não precisa-se ler um manual "nerd" para compreender a história. Vemos habitualmente uma série de trabalhos de mesmo tom sem um esclarecimento convincente. Ficção é ficção, só que para ser envolvente temos que passar a acreditar nela. Pelo menos durante o tempo em que nos propusemos entregar nossos "corações e mentes" (nome de documentário de Moore) ao filme.

Dentre os vários pontos positivos estão os figurinos, as boas atuações (que poderiam tender à canastrice, por conta do tema), as cenas de luta realmente empolgantes (detalhe: não gosto dos típicos "filmes de luta"), além dos pontos tocantes a limitações puramente humanas e atemporais. O mote de luta pela liberdade - presente em outras produções de Larry e Andy Wachowsky, como "V de Vingança" - é focado de maneira atraente. Freedom for your mind. E o talento de Lawrence Fishburne (em um personagem cheio de significados paralelos, muito interessante), como Morpheus, é o mais importante vínculo com a lógica narrativa.

Pode-se dizer que a parte que menos gostei foi o bizarro ritual de passagem, a libertação de Neo (Reeves) do universo de matrix. Até entendi a que ele serviu e porque ele era do jeito que era. Mas ninguém pode negar: é nojento.

Enfim, acho que uma das coisas mais pertinentes numa contrução estilo Matrix é a verossimilhança. E a idéia de vivermos em um mundo falso e de sermos subjugados por uma força de maior instância (no caso do filme, experiências tecnológicas nossas mal-sucedidas) não nos é tão inimaginável. Aliás, essa é uma possibilidade na qual penso frequentemente. Tá bom, também não vou exagerar nas minhas viagens filosóficas, mas o filme dá essa deixa, sem dúvida.

Para quem quiser uma análise mais acadêmica e quase completa clique aqui

Grata, s'excuser pour l'excès de digression. E por favor apaguem a luz.

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Com açúcar, com afeto...

Preciso fazer meu primeiro post somente em primeira pessoa. Quero ter um contato mais íntimo com esse meu pequeno (ou não) projeto. Então lá vai.
Antes de fazer as coisas sempre me pergunto os motivos que tenho. Faço muitas ponderações para não me trair, não irromper em ambientes inóspitos e/ou vazios.

Primeira pergunta: Por que fazer um blog? Algumas das respostas possíveis são: exibicionismo, divulgação de atividade, falta do que fazer, gosto excessivo por modernidades, ou... não sei, algo tão subjetivo que eu não saberia explicar. Fiz uma auto-análise e acho que descobri a resposta mais adequada (ou pelo menos a minha predileta). O negócio é que eu gosto, busco e necessito da escrita. Por quê? Não sei. E creio que não escrevo um livro (ou algo mais elaborado) porque não tenho grana, sou preguiçosa e/ou não sou tão culta assim (sem falsa modéstia, é só a verdade). O blog surgiu-me como uma solução nesse emaranhado de frustrações. Gente, eu escrevia poesia e escondia no ensino fundamental... isso daqui já é um grande avanço. Ah, espera aí, agora tenho que refutar os motivos indesejáveis. Exibicionismo - isso não é mesmo, e penso que quem me conhece sabe que não sou do tipo exibicionista... sou insuportavelmente tímida, principalmente em relação aos meus textos. Mas gosto deles, só quero descobrir um dia, se realmente eu sei escrever. Além da minha sincera dúvida sobre a efetiva leitura desses textos... será que quem entra lê? Será que alguém entra? (risos) Como me exibiria então? Seria uma exibição para si próprio... Divulgação de atividade - Não acho o blog um meio credível o suficiente para servir como uma boa plataforma de profissionalismo. É sério. Podem até não concordar comigo, mas acredito que seja algo feito para que aqueles que gostam demais de escrever não explodam de textos guardados no coração, na cabeça e na gaveta. Pelo menos o meu tem essa função (no entanto, se alguém gostar e quiser me dar um emprego, não vou me incomodar). Ultimamente realizei a leitura de alguns blogs (inclusive o de um cara que é uma comédia, sei que opinião é algo extremamente pessoal, mas trabalhar argumentativamente com uma pretensa qualidade revolucionária do humor em "Não é Mais Um Besteirol Americano" é como comparar os talentos cômicos de Chaplin e Didi e isso para mim é inconcebível, que me perdoe que gosta do Didi ou de escatologia). Essa vasta leitura "bloguística" me fez observar: "caramba, tem um monte de gente dizendo coisas interessantes e bem escritas", aos poucos vou me despindo dos preconceitos "internéticos". Quem sabe daqui a um tempo mudo de idéia e começarei a acreditar que as pessoas me lêem e levam a sério. Falta do que fazer - Ah, mas isso não é mesmo. Faculdade, estágio, tarefas caseiras, leituras atrasadas, etc, não me dão trégua. Gosto excessivo por modernidades - Custo a me acostumar com elas. Tenho até um pouco de medo. Mudanças velozes demais me dão vertigem.

Agora a segunda pergunta: por que de cinema? E música? Aí a resposta é bem mais simples. Porque esses são meus delírios prediletos. São meus vícios saudáveis. Cinema é vivência; ou melhor, é vida. As coisas que escrevo a esse respeito são mais do que intenção de parecer inteligente ou interessante. São sentimentos. São sonhos. São a intensidade de uma mobilização que sou covarde para fazer na vida real, até porque não existe representação dessa vida real melhor do que o cinema. E, se a maioria das pessoas despreza a minha opinião sobre o que ocorre nas telas, fora delas as minhas divagações tem a dimensão de um grão de areia (para os outros... para mim ela vale muito; mas entenda-se que isso não me incomoda tanto assim). Covardia... Taí, talvez isso seja a resposta para tudo. Música é bom demais para ser verdade. E ponto. Não todas, mas muitas delas fazem um bem inexplicável pra mim.

Com toda essa baboseira, quero que esteja claro que não vou escrever nada para aparentar uma sensibilidade maior do que a sua. É apenas o que sinto. E tento escrever isso da melhor forma possível, pode não ser tão bom assim, mas dá pro gasto. Quem gostar leia (e interaja, isso aqui também serve para isso; além de alimentar minha carência). Quem não gostar... leia outra coisa ou discorde/critique, só não me xingue por favor.
SE ALGUÉM REALMENTE FEZ ESSA LEITURA, ESSA FOI PARA VOCÊ: "COM AÇÚCAR, COM AFETO"

Grata, s'excuser pour l'excès de digression. E por favor apaguem a luz.

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Leve como um sonho bom, mesmo com temas densos


Demorei... tive muitos impedimentos antes de assistir "My Blueberry Nights". Perdi as exibições nos cinemas do Rio. Enrolada como sempre. Mas toda a luta, para acabar assistindo no cinema da UFF, em Niterói, valeu muito, muito, muito a pena. O filme é lindo. Esteticamente, o diretor consegue passar a impressão de que nos perdemos em um furacão de beleza e ardor emocional. Assim como é usual na obra de Wong Kar-Wai; é verdade que não assisti muita coisa, apenas "2046". Mas esse último é uma mostra significativa do que falo.

Um colorido diferente de muita coisa que se vê frequentemente... lindo. Cenas passam de maneira a dar tempo a reflexão, e refletimos, como se nos puséssemos no lugar das personagens. Que vão se desenhando, nos tendo como testemunhas apreensivas. A cantora Norah Jones, apesar de muitas expectativas negativas a seu respeito, não atrapalha a contrução. Ela é... como direi... linear. E juro que não estou me desfazendo. Só que como protagonista ela parece não sê-la. As tramas paralelas têm fortes candidatas a personagem central. Até porque essas coadjuvantes são muito boas. Eu já me sinto suspeita para falar de um filme que tenha a Natalie Portman, sempre sou só elogios. Tenho medo de ter me cegado para os defeitos de suas interpretações. Mas é difícil de enxergar esses pretensos problemas. Ela sempre me emociona.

Rachel Weisz se destaca também, sem todo o brilho da primeira, mas com um talento inegável. Além da aparição dramática maravilhosa de Arnie (David Strathairn), ex-marido da personagem de Weisz. Jude Law - Alfie, o Sedutor - nos dá mais uma demonstração de seu charme, com o papel de um carente e profundo dono de um café com mágicas "noites de torta de amora".
Já li críticas que comentam a falta de sentido da viagem de Elizabeth (Jones). Desde quando nossas atitudes intempestuosas têm explicação? Quem disse que conseguimos explicar aquilo que sentimos... seria melhor se ela tivesse ganho uma herança de um tio velho no interior? Ou que descobrisse que tinha uma irmã que nunca havia visto? Ou resolvesse fazer uma faculdade, onde as pessoas a humilhassem e usassem biquinis por toda parte??? Não. Não acho necessário uma atitude "coerente" nesse caso. A vida é incoerente. Nós o somos. O sofrimento o é.
E que aprendamos, assim como Elizabeth, que é melhor ser como somos. Independente do que o mundo exija de nós. O mundo do jeito que está não é exemplo para ninguém, se ele tivesse dado certo... quem sabe (s'excuser pour l'excès de digression - Desculpem-me pelo excesso de divagação). E por favor, apaguem a luz.

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Água com açúcar: Beba com moderação


Existe uma grande lista de filmes dentro de uma qualificação usada de maneira corrente e, para mim, bastante adequada: "água com açúcar". Particularmente, eu a adoro! E por mais que pragueje, acabo assistindo muitos deles. Mas temos que apreciar com moderação. Acredito que tudo que é muito vazio de conteúdo pode trazer malefícios. É sério. Tenho uma visão um pouco apocalíptica nesse ponto, para mim American Pie e semelhantes tem um quê "malígno-conspiratório". Quem quiser pode rir, eu deixo.

Mas existem as grandes maravilhas dentro desse "estilo". E uma delas é, sem a menor sombra de dúvida, é Nothing Hill. Um filme cheio de sutilezas agradáveis, sendo uma delas o fino (quando bem feito) humor inglês - só abstraiam o Spike, que é pastelão mesmo. Tem também o Hugh Grant, permitam-me o momento menininha adolescente, que é um fofo!

As locações do filme são muito interessantes, têm a essência do paraíso, onde podemos encontrar a felicidade eterna. Que apesar de não ser real - eu acho, baseada no meu limitado conhecimento, é sempre bom para alimentar nossas boas e bucólicas fantasias. Os imbróglios que cercam o romance improvável entre Anna Scott (Jullia Roberts) e Willian Tacker (Grant) mostram um entrosamento fora do comum entre os atores que protagonizam a película. Os personagens adjacentes também são apaixonantes, servem para somar virtudes ao filme. Trabalham um discurso que exala simpatia; de que vale a pena viver, ter amigos, amar, independente dos problemas que possam vir. Realmente interessante.

Além das músicas, que são aquelas de se fazer chorar. Que escutamos só para lembrar de alguém ou alguma situação especial. Ou no "Good Times", seção de uma rádio que não me lembro a sintonia. Dentro da proposta desenvolvida, essa trilha sonora é brilhante.



Não esqueçamos o grande e necessário happy ending, o clássico, delicioso e choroso happy ending. Todas as nossas expectativas depois de toda a construção narrativa são atendidas, e que não reclamem dele. Nesse caso era cabível. Liguem a TV durante a tarde em canais abertos ou pagos. Talvez ele esteja passando.

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Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados)

Um bom Kubrick, mas não o mais inspirado.

Palpitante como o som de piano que martela por cada seqüência, “De olhos Bem Fechados” não deixa dúvidas de que se trata de uma legítima Kubrick Production.

Toda a narrativa tem um ritmo bem marcado. Os silêncios se dão nas horas certas – o primeiro que ouvi discutir esse conceito, brilhantemente, foi o diretor Eduardo Coutinho (Jogo de Cena e Edifício Master). As locações são bastante interessantes e a trilha sonora é demais, muito boa mesmo.

Talvez, à primeira vista, o longo filme – com 2 horas e 40 minutos de duração – pareça um emaranhado envolvendo nudez, bastante nudez, e um complexo jogo psicológico/sensual. À segunda vista isso pode se confirmar, tudo depende de como olhamos a sucessão elaborada de acontecimentos. Existe uma série de associações que podem atribuir um tom quase moralizante a toda a história. A metáfora da máscara é uma delas, quando agregamos ao significado da peça, a frágil relação – que parece plasticamente perfeita a princípio – entre o casal central da história; notamos que os dois, por hábito adquirido no cotidiano, procuram dissimular suas fraquezas através de um comportamento quase burocrático. Ou quando pensamos na artificial relação entre “Bill” e o restante das personagens.

Confuso? Sim, o filme é psicologicamente confuso – ouso dizer que há um quê de assustador nas construções do diretor de Laranja Mecânica, onde sentimentos reais se misturam com alucinações - representativas de desejos quase doentios. Certo momento Harford (Cruise) declara: “Nenhum sonho nunca é apenas um sonho”.

Como é habitual nas películas dirigidas por Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” é um filme perturbador, tenso e mexe com valores ocultos. Quase uma sessão de psicanálise. Nele consegue-se extrair o que há de melhor nas atuações, por conta dessa tensão subjetiva; no entanto, o que há de pior se torna igualmente notável. Nicole Kidman (Alice Harford) é simplesmente ótima. Enquanto ela está em cena, esquecemos os vícios do enredo; salientam-se os acertos. Tom Cruise (Willian Harford) é... é... apenas Tom Cruise. Sua desenvoltura é mais satisfatória nos momentos em que ele é um galanteador descompromissado; quando a densidade da cena exigiria mais do que isso existe uma grande lista de outros atores que teriam melhor desempenho. Sua expressão de desespero em momentos cruciais não convence. Seu sorriso simpático sempre parece forçado. É um protagonista desinteressante.

A mistura entre a superficialidade das questões diárias e a profundidade dos sentimentos dá a matiz interessante da película. Nos defrontamos com um final extremamente lacunoso, sem tanto brilho... mas ainda assim, Kubrick novamente merece aplausos.

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Lei de Talião levada a sério

ZONA DO CRIME

Narrativa tensa e bem construída. Tensão essa que tem como suporte a trilha sonora — com grande carga dramática — e a fotografia trepidante. Filmado em um lugar não muito longe daqui, no caso a Cidade do México, adquirimos uma familiaridade apreensiva. Com a temática atual, que tem como tese a violência, como antítese a repressão brutal e como síntese a ignorância na hora de lidar com as crises, Rodrigo Plá levou o prêmio de diretor estreante no Festival de Cinema de Veneza de 2008.

Quando se abre a porta do condomínio La Zona, nos reconhecemos ali; a miséria do lado de fora escancara as desigualdades existentes nos países da América Latina. A história gira em torno do universo paralelo. construído por conta do medo, que acaba originando um círculo de ilegalidades justificáveis. Aqueles que tentam realizar algo de acordo com as leis universalizantes acabam por se decepcionar com o sistema de corrupção que envolve toda a esfera do condomínio. Isso fica claro quando o delegado do crime em questão — ponto central da história — diz: “Pela primeira vez pensei que ia fazer o certo”.

A filosofia do “olho por olho, dente por dente” é levada ao pé da letra pelos seguranças do complexo residencial, que fazem justiça com as próprias mãos e subjugam a polícia e a opinião dos moradores discordantes

Essa sensação de impotência e insegurança, presente em cada parte das nossas vidas, é incisiva. Difícil é sair da sala de cinema sem indagar-se sobre o que deve ser feito em relação a tudo isso. Resta-nos a reflexão.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Entusiasmo, vertigem e rock’n roll



Shine a Light

Não é exagero definir “Shine a Light” como um musical de prender a respiração.Com uma fotografia impecável, o filme passa uma sensação vibrante e frenética a quem está em frente à tela do cinema.

O documentário é permeado pelo show dos Stones no afamado Beacon Theater, na cidade de Nova York, em 2006. Seus flashbacks são bastante divertidos, pois têm como marca a ironia e o jeito extrovertido de Mick Jagger e Keyth Richards. Alcançado o intento de explicitar as relações da banda com o público, com a imprensa e entre seus próprios integrantes, encontramos o diagnóstico para o sucesso tão duradouro dos “dinossauros do rock”. O público entra em uma sintonia dual incomensurável durante o show. Os jornalistas (após todos os escândalos envolvendo Jagger e companhia) aprenderam a respeitá-los, pois como se vê, o grupo de músicos, tecnicamente muito talentosos por sinal, parecem viver uma harmonia sustentada pela força de uma grande amizade, por mais clichê que isso possa soar.

As participações aparecem para enriquecer a energia do show e cumprem seu papel com louvor. São elas: o vocalista do White Stripes, Jack White, a cantora Christina Aguilera e o astro norte-americano do blues, Buddy Guy.

Outro motivo pelo qual os objetivos do filme são alcançados é o toque de mestre de Martin Scorsese que, em um trabalho extremamente inspirado, deixa bem clara a sua posição de fã e realiza uma direção brilhante que torna a película viva e intimista no ponto certo.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Pecados Inocentes


Roteiro enfadonho para uma história explosiva

No início de “Pecados Inocentes”, já existe uma expectativa de quem sabe o fim da história — bem intenso, diga-se de passagem. Como o filme se baseia em história real e em livro homônimo, a relação incestuosa é uma tragédia anunciada.

O relacionamento entre as personagens da artista Barbara Daly (Julianne Moore) e do empresário Brooks Baekeland (Stephen Dillane), com todas as suas crises de diferenças morais e sociais, se torna mero pano de fundo para o clímax. No invólucro de convivência de Brooks — rico herdeiro do inventor da baquelita (tipo de material plástico), são citados nomes de destaque como Proust e Dalí.

Contada em seis episódios, cada um deles dizendo respeito a uma viagem diferente da família, a narrativa se mostra picotada demais. O cansaço então não é raro para quem assiste às passagens pela França, Espanha e Inglaterra — apesar da beleza dos cenários. A sensação que temos é de desapego, ou seja, não se cria um vínculo entre os espectadores e os elementos da história.

A atmosfera criada é realmente densa desde o começo, e a maior compensação, por conta dos pontos fracos do filme, é atuação de Julianne. Ela é brilhante ao construir uma personalidade complexa e inconstante — desenha-se assim uma linha tênue entre sanidade e loucura.

O filho de Bárbara, Tony Baekeland (Eddie Redmayne), se torna seu grande companheiro depois da separação com o marido. Essa proximidade quase dependente que eles mantêm origina uma série de circunstâncias perturbadoras, que explicam os aparentes distúrbios psicológicos e morais dos dois. Tudo parece muito confuso e prestes a desabar na convivência entre mãe, filho e os demais personagens, que são praticamente nulos de profundidade.

O conflito dramático estabelecido na trama central oferece um tom pesado e tenso que culmina em um final previsto. Mas que nem por isso deixa de ser chocante.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Speed Racer


Ajustes bem realizados, intento alcançado

No decorrer do filme nos sentimos assistindo a um desenho animado ou à exibição de um videogame. Só que com pessoas reais... ou quase. Alguns dos atores parecem ainda ligados ao universo “animation movie”, como Cristina Ricci (Trixie) – eterna Vandinha de “Família Addams” – e John Goodman (Pops Racer) – Fred em “Os Flinstones”.

A pirotecnia digital construída não nega o estilo dos irmãos Wachowski – diretores da trilogia Matrix. Tudo parece deflagrar na tela: sentimos as vibrações de cores, que muitas vezes monopolizam a atenção e de artifícios quase ultrasônicos. A intenção de encher os olhos dos espectadores é facilmente notada. Os cenários misturam características extremamente futuristas com toques “retrô”. Por conta disso, pode-se imaginar o envolvimento dos fãs da história original. O longa deve agradar a esses admiradores clássicos e conseguir novos adeptos – provavelmente os mais jovens.

A história traz alguns ingredientes irredutivelmente presentes nesse tipo de produção: os super vilões, no caso os chefes de grandes corporações, os motivos nobres do mocinho Speed (Emile Hirsch, “Um Show de Vizinha”), o sentimentalismo familiar, as tiradas engraçadinhas – que ficam por conta do irmão mais novo do protagonista e de seu macaco – e o simpático par romântico central.

Alguns trechos da narrativa conseguem realmente a ambientação necessária para deixar o espectador emocionado. O clima leve e facilmente digerível é abarcador. Pode ser o filme certo, mas depende muito do público. Se as premissas propostas agradam, a satisfação é certa. Se não, redirecione sua escolha.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Uma experiência para lá de visual... sensitiva

O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAIN
Narrativa de ritmo doce e encantador. A forma como se sobrepõe cada parte da história é simplesmente irresistível. Personagens são descritos de forma deliciosamente divertida; e parte desse mérito fica com a pertinência do narrador, que tem destaque significativo na amenidade tocante sentida de maneira habitual no desenrolar da película. Somam-se os méritos. Andrey Tatou - que depois atuou em "O Código Da Vinci" e "Albergue Espanhol" - está perfeita no papel. Sua expressividade facial e corporal abrilhanta a produção. A protagonista nos ajuda a lembrar do "gosto pelos pequenos prazeres" e nos pegamos sorrindo com sutileza e espontaneidade... sem sustos ou espamos na tela. Tentarei parar de babar. Passarei a desenvolver uma resenha mais clara.
A tímida Amelie Poulain parece, nas sucessivas histórias de vida apresentadas durante as passagens de tempo, progredir em uma calorosa busca pelo sentimento simples e verdadeiro. A imaginação é o melhor trunfo de Amelie, principalmente enquanto seu intento não é alcançado. Uma a uma, as situações "tocadas" pela menina de brilhantes olhos amendoados, mesmo com a brevidade de poucos minutos, envolvem e emocionam; a forma como ela apresenta as soluções para as vidas alheias surpreendem e divertem. Um dos pontos-chave no filme é quando ela conhece o "homem de vidro". Ele é frágil. Porém, ela o parece com mais intensidade que o primeiro. Isso é perceptível no momento em que Amelie relembra as palavras do doente senhor com algum resquício de rancor: "Nunca soube se relacionar com os outros".Características como: inovações na organização temporal, um cenário para lá de belo - Paris, Montmartre, uma trilha musical sublime... fazem do filme histórico e completo. Como não vemos há muito.

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