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Leve como um sonho bom, mesmo com temas densos


Demorei... tive muitos impedimentos antes de assistir "My Blueberry Nights". Perdi as exibições nos cinemas do Rio. Enrolada como sempre. Mas toda a luta, para acabar assistindo no cinema da UFF, em Niterói, valeu muito, muito, muito a pena. O filme é lindo. Esteticamente, o diretor consegue passar a impressão de que nos perdemos em um furacão de beleza e ardor emocional. Assim como é usual na obra de Wong Kar-Wai; é verdade que não assisti muita coisa, apenas "2046". Mas esse último é uma mostra significativa do que falo.

Um colorido diferente de muita coisa que se vê frequentemente... lindo. Cenas passam de maneira a dar tempo a reflexão, e refletimos, como se nos puséssemos no lugar das personagens. Que vão se desenhando, nos tendo como testemunhas apreensivas. A cantora Norah Jones, apesar de muitas expectativas negativas a seu respeito, não atrapalha a contrução. Ela é... como direi... linear. E juro que não estou me desfazendo. Só que como protagonista ela parece não sê-la. As tramas paralelas têm fortes candidatas a personagem central. Até porque essas coadjuvantes são muito boas. Eu já me sinto suspeita para falar de um filme que tenha a Natalie Portman, sempre sou só elogios. Tenho medo de ter me cegado para os defeitos de suas interpretações. Mas é difícil de enxergar esses pretensos problemas. Ela sempre me emociona.

Rachel Weisz se destaca também, sem todo o brilho da primeira, mas com um talento inegável. Além da aparição dramática maravilhosa de Arnie (David Strathairn), ex-marido da personagem de Weisz. Jude Law - Alfie, o Sedutor - nos dá mais uma demonstração de seu charme, com o papel de um carente e profundo dono de um café com mágicas "noites de torta de amora".
Já li críticas que comentam a falta de sentido da viagem de Elizabeth (Jones). Desde quando nossas atitudes intempestuosas têm explicação? Quem disse que conseguimos explicar aquilo que sentimos... seria melhor se ela tivesse ganho uma herança de um tio velho no interior? Ou que descobrisse que tinha uma irmã que nunca havia visto? Ou resolvesse fazer uma faculdade, onde as pessoas a humilhassem e usassem biquinis por toda parte??? Não. Não acho necessário uma atitude "coerente" nesse caso. A vida é incoerente. Nós o somos. O sofrimento o é.
E que aprendamos, assim como Elizabeth, que é melhor ser como somos. Independente do que o mundo exija de nós. O mundo do jeito que está não é exemplo para ninguém, se ele tivesse dado certo... quem sabe (s'excuser pour l'excès de digression - Desculpem-me pelo excesso de divagação). E por favor, apaguem a luz.

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Água com açúcar: Beba com moderação


Existe uma grande lista de filmes dentro de uma qualificação usada de maneira corrente e, para mim, bastante adequada: "água com açúcar". Particularmente, eu a adoro! E por mais que pragueje, acabo assistindo muitos deles. Mas temos que apreciar com moderação. Acredito que tudo que é muito vazio de conteúdo pode trazer malefícios. É sério. Tenho uma visão um pouco apocalíptica nesse ponto, para mim American Pie e semelhantes tem um quê "malígno-conspiratório". Quem quiser pode rir, eu deixo.

Mas existem as grandes maravilhas dentro desse "estilo". E uma delas é, sem a menor sombra de dúvida, é Nothing Hill. Um filme cheio de sutilezas agradáveis, sendo uma delas o fino (quando bem feito) humor inglês - só abstraiam o Spike, que é pastelão mesmo. Tem também o Hugh Grant, permitam-me o momento menininha adolescente, que é um fofo!

As locações do filme são muito interessantes, têm a essência do paraíso, onde podemos encontrar a felicidade eterna. Que apesar de não ser real - eu acho, baseada no meu limitado conhecimento, é sempre bom para alimentar nossas boas e bucólicas fantasias. Os imbróglios que cercam o romance improvável entre Anna Scott (Jullia Roberts) e Willian Tacker (Grant) mostram um entrosamento fora do comum entre os atores que protagonizam a película. Os personagens adjacentes também são apaixonantes, servem para somar virtudes ao filme. Trabalham um discurso que exala simpatia; de que vale a pena viver, ter amigos, amar, independente dos problemas que possam vir. Realmente interessante.

Além das músicas, que são aquelas de se fazer chorar. Que escutamos só para lembrar de alguém ou alguma situação especial. Ou no "Good Times", seção de uma rádio que não me lembro a sintonia. Dentro da proposta desenvolvida, essa trilha sonora é brilhante.



Não esqueçamos o grande e necessário happy ending, o clássico, delicioso e choroso happy ending. Todas as nossas expectativas depois de toda a construção narrativa são atendidas, e que não reclamem dele. Nesse caso era cabível. Liguem a TV durante a tarde em canais abertos ou pagos. Talvez ele esteja passando.

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Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados)

Um bom Kubrick, mas não o mais inspirado.

Palpitante como o som de piano que martela por cada seqüência, “De olhos Bem Fechados” não deixa dúvidas de que se trata de uma legítima Kubrick Production.

Toda a narrativa tem um ritmo bem marcado. Os silêncios se dão nas horas certas – o primeiro que ouvi discutir esse conceito, brilhantemente, foi o diretor Eduardo Coutinho (Jogo de Cena e Edifício Master). As locações são bastante interessantes e a trilha sonora é demais, muito boa mesmo.

Talvez, à primeira vista, o longo filme – com 2 horas e 40 minutos de duração – pareça um emaranhado envolvendo nudez, bastante nudez, e um complexo jogo psicológico/sensual. À segunda vista isso pode se confirmar, tudo depende de como olhamos a sucessão elaborada de acontecimentos. Existe uma série de associações que podem atribuir um tom quase moralizante a toda a história. A metáfora da máscara é uma delas, quando agregamos ao significado da peça, a frágil relação – que parece plasticamente perfeita a princípio – entre o casal central da história; notamos que os dois, por hábito adquirido no cotidiano, procuram dissimular suas fraquezas através de um comportamento quase burocrático. Ou quando pensamos na artificial relação entre “Bill” e o restante das personagens.

Confuso? Sim, o filme é psicologicamente confuso – ouso dizer que há um quê de assustador nas construções do diretor de Laranja Mecânica, onde sentimentos reais se misturam com alucinações - representativas de desejos quase doentios. Certo momento Harford (Cruise) declara: “Nenhum sonho nunca é apenas um sonho”.

Como é habitual nas películas dirigidas por Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” é um filme perturbador, tenso e mexe com valores ocultos. Quase uma sessão de psicanálise. Nele consegue-se extrair o que há de melhor nas atuações, por conta dessa tensão subjetiva; no entanto, o que há de pior se torna igualmente notável. Nicole Kidman (Alice Harford) é simplesmente ótima. Enquanto ela está em cena, esquecemos os vícios do enredo; salientam-se os acertos. Tom Cruise (Willian Harford) é... é... apenas Tom Cruise. Sua desenvoltura é mais satisfatória nos momentos em que ele é um galanteador descompromissado; quando a densidade da cena exigiria mais do que isso existe uma grande lista de outros atores que teriam melhor desempenho. Sua expressão de desespero em momentos cruciais não convence. Seu sorriso simpático sempre parece forçado. É um protagonista desinteressante.

A mistura entre a superficialidade das questões diárias e a profundidade dos sentimentos dá a matiz interessante da película. Nos defrontamos com um final extremamente lacunoso, sem tanto brilho... mas ainda assim, Kubrick novamente merece aplausos.

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Lei de Talião levada a sério

ZONA DO CRIME

Narrativa tensa e bem construída. Tensão essa que tem como suporte a trilha sonora — com grande carga dramática — e a fotografia trepidante. Filmado em um lugar não muito longe daqui, no caso a Cidade do México, adquirimos uma familiaridade apreensiva. Com a temática atual, que tem como tese a violência, como antítese a repressão brutal e como síntese a ignorância na hora de lidar com as crises, Rodrigo Plá levou o prêmio de diretor estreante no Festival de Cinema de Veneza de 2008.

Quando se abre a porta do condomínio La Zona, nos reconhecemos ali; a miséria do lado de fora escancara as desigualdades existentes nos países da América Latina. A história gira em torno do universo paralelo. construído por conta do medo, que acaba originando um círculo de ilegalidades justificáveis. Aqueles que tentam realizar algo de acordo com as leis universalizantes acabam por se decepcionar com o sistema de corrupção que envolve toda a esfera do condomínio. Isso fica claro quando o delegado do crime em questão — ponto central da história — diz: “Pela primeira vez pensei que ia fazer o certo”.

A filosofia do “olho por olho, dente por dente” é levada ao pé da letra pelos seguranças do complexo residencial, que fazem justiça com as próprias mãos e subjugam a polícia e a opinião dos moradores discordantes

Essa sensação de impotência e insegurança, presente em cada parte das nossas vidas, é incisiva. Difícil é sair da sala de cinema sem indagar-se sobre o que deve ser feito em relação a tudo isso. Resta-nos a reflexão.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Entusiasmo, vertigem e rock’n roll



Shine a Light

Não é exagero definir “Shine a Light” como um musical de prender a respiração.Com uma fotografia impecável, o filme passa uma sensação vibrante e frenética a quem está em frente à tela do cinema.

O documentário é permeado pelo show dos Stones no afamado Beacon Theater, na cidade de Nova York, em 2006. Seus flashbacks são bastante divertidos, pois têm como marca a ironia e o jeito extrovertido de Mick Jagger e Keyth Richards. Alcançado o intento de explicitar as relações da banda com o público, com a imprensa e entre seus próprios integrantes, encontramos o diagnóstico para o sucesso tão duradouro dos “dinossauros do rock”. O público entra em uma sintonia dual incomensurável durante o show. Os jornalistas (após todos os escândalos envolvendo Jagger e companhia) aprenderam a respeitá-los, pois como se vê, o grupo de músicos, tecnicamente muito talentosos por sinal, parecem viver uma harmonia sustentada pela força de uma grande amizade, por mais clichê que isso possa soar.

As participações aparecem para enriquecer a energia do show e cumprem seu papel com louvor. São elas: o vocalista do White Stripes, Jack White, a cantora Christina Aguilera e o astro norte-americano do blues, Buddy Guy.

Outro motivo pelo qual os objetivos do filme são alcançados é o toque de mestre de Martin Scorsese que, em um trabalho extremamente inspirado, deixa bem clara a sua posição de fã e realiza uma direção brilhante que torna a película viva e intimista no ponto certo.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Pecados Inocentes


Roteiro enfadonho para uma história explosiva

No início de “Pecados Inocentes”, já existe uma expectativa de quem sabe o fim da história — bem intenso, diga-se de passagem. Como o filme se baseia em história real e em livro homônimo, a relação incestuosa é uma tragédia anunciada.

O relacionamento entre as personagens da artista Barbara Daly (Julianne Moore) e do empresário Brooks Baekeland (Stephen Dillane), com todas as suas crises de diferenças morais e sociais, se torna mero pano de fundo para o clímax. No invólucro de convivência de Brooks — rico herdeiro do inventor da baquelita (tipo de material plástico), são citados nomes de destaque como Proust e Dalí.

Contada em seis episódios, cada um deles dizendo respeito a uma viagem diferente da família, a narrativa se mostra picotada demais. O cansaço então não é raro para quem assiste às passagens pela França, Espanha e Inglaterra — apesar da beleza dos cenários. A sensação que temos é de desapego, ou seja, não se cria um vínculo entre os espectadores e os elementos da história.

A atmosfera criada é realmente densa desde o começo, e a maior compensação, por conta dos pontos fracos do filme, é atuação de Julianne. Ela é brilhante ao construir uma personalidade complexa e inconstante — desenha-se assim uma linha tênue entre sanidade e loucura.

O filho de Bárbara, Tony Baekeland (Eddie Redmayne), se torna seu grande companheiro depois da separação com o marido. Essa proximidade quase dependente que eles mantêm origina uma série de circunstâncias perturbadoras, que explicam os aparentes distúrbios psicológicos e morais dos dois. Tudo parece muito confuso e prestes a desabar na convivência entre mãe, filho e os demais personagens, que são praticamente nulos de profundidade.

O conflito dramático estabelecido na trama central oferece um tom pesado e tenso que culmina em um final previsto. Mas que nem por isso deixa de ser chocante.

CRÉDITOS: UERJVIU

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Speed Racer


Ajustes bem realizados, intento alcançado

No decorrer do filme nos sentimos assistindo a um desenho animado ou à exibição de um videogame. Só que com pessoas reais... ou quase. Alguns dos atores parecem ainda ligados ao universo “animation movie”, como Cristina Ricci (Trixie) – eterna Vandinha de “Família Addams” – e John Goodman (Pops Racer) – Fred em “Os Flinstones”.

A pirotecnia digital construída não nega o estilo dos irmãos Wachowski – diretores da trilogia Matrix. Tudo parece deflagrar na tela: sentimos as vibrações de cores, que muitas vezes monopolizam a atenção e de artifícios quase ultrasônicos. A intenção de encher os olhos dos espectadores é facilmente notada. Os cenários misturam características extremamente futuristas com toques “retrô”. Por conta disso, pode-se imaginar o envolvimento dos fãs da história original. O longa deve agradar a esses admiradores clássicos e conseguir novos adeptos – provavelmente os mais jovens.

A história traz alguns ingredientes irredutivelmente presentes nesse tipo de produção: os super vilões, no caso os chefes de grandes corporações, os motivos nobres do mocinho Speed (Emile Hirsch, “Um Show de Vizinha”), o sentimentalismo familiar, as tiradas engraçadinhas – que ficam por conta do irmão mais novo do protagonista e de seu macaco – e o simpático par romântico central.

Alguns trechos da narrativa conseguem realmente a ambientação necessária para deixar o espectador emocionado. O clima leve e facilmente digerível é abarcador. Pode ser o filme certo, mas depende muito do público. Se as premissas propostas agradam, a satisfação é certa. Se não, redirecione sua escolha.

CRÉDITOS: UERJVIU

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