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O crime do padre Amaro


Como grande admiradora da literatura clássica em língua portuguesa, sempre fico muito curiosa para ver os resultados de uma transposição dessas obras para as telonas. Neste mesmo blog, já dei um exemplo que – na minha opinião – foi bastante mal-sucedido (“O primo Basílio”). Vou continuar com Eça de Queiroz e o filme da vez é “O crime do Padre Amaro”. Este sim, um exemplo de como o cinema pode aproveitar toda a riqueza do texto de um autor como o português em questão. O filme compõe o cenário de um novo cinema mexicano e ganhou prêmios como o de melhor roteiro do Festival de Havana e foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.


A história tem como pano de fundo toda a devassidão que pode haver na relação entre política, poder e religião (no fundo sinônimos). No entanto, o centro das atenções é o caso romântico e proibido entre o padre recém-chegado e a jovem sedutora Amélia. A produção mexicana acerta em cheio na escolha do protagonista Gael García Bernal. Ele personifica vários dos atributos que o autor havia desenhado cuidadosamente na trama desenvolvida no livro. Gael faz um Amaro charmoso (e como), atormentado e de caráter fraco, assim como deveria ser. O conflito entre a moralidade e a ardente paixão que Amaro sente é bem marcado pela interpretação do ator mexicano.


Um dos pontos altos da narrativa é o paralelo cênico que a inteligente direção de Carlos Carrera faz entre os símbolos sagrados e toda a “blasfêmia” ocorrida em nome de Deus. Há cenas em que Amaro e Amélia demonstram toda a força de sua atração física ao mesmo tempo em que são focalizados os santos no altar. Esse e outros jogos trabalham uma ironia e uma crítica sagaz. Colabora para tornar a crítica mais eficaz, a interpretação dos atores coadjuvantes do círculo da Igreja Católica. Esses personagens ricos – com destaque para o padre Natalio, adepto da teologia da libertação, feito pelo ator Damián Alcázar – traçam um perfil interessante das intrigas permanentemente presentes no seio da religião predominante (por enquanto) em países como Portugal e Brasil.


As perdas recorrentes – e, muitas vezes, inevitáveis – no momento da adaptação de livros para o cinema não incomodam tanto para quem teve contato com a obra. Ou seja, não chega a comprometes a fluência do drama em questão. Uma ressalva é importante. A Amélia do filme é muito diferente da do livro. Na película, fica difícil notar algum momento de hesitação ou conflito interno (presente em Amaro, como disse anteriormente). A jovem se joga de cabeça no romance proibido desde os primeiros contatos, ou seja, a essência puritana que seu nome suscita é jogada para escanteio.


O crime do padre Amaro é, acima de tudo, um grande filme. Com um tema que causa rebuliço e atores de primeira, o diretor soube jogar o jogo.



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Filosofia e cinema, topa?


Povo que gosta de cinema, uni-vos! Ainda dá tempo de aproveitar uma programação muito boa do Caixa Cultural. O centro cultural do centro do Rio está promovendo, desde maio desse ano, uma mostra que estuda a convergência entre cinema e filosofia chamada: “A história da filosofia em 40 filmes”. A programação completa (que inclui pérolas de Polanski, Win Werders, Bergman, etc) se constitui em um curso sobre o assunto e os filmes são exibidos às 10h30 dos sábados até fevereiro do ano que vem. Ao final da exibição de cada filme, os especialistas Alexandre Costa e Patrick Pessoa realizam uma palestra e explicam a relação entre o tema do filme e a filosofia.

Mesmo para quem não gosta de filosofia, vale a dica para aproveitar os clássicos e, o que é melhor, gratuitamente. As senhas começam a ser distribuídas às 10h. Confira o restante de programação:

MÓDULO 6 – Morte e finitude

17/10/09 - Paris, Texas | Wim Wenders

24/10/09 - O sétimo selo | Ingmar Bergman

MÓDULO 7 – História e violência

31/10/09 - Ricardo III | Al Pacino

07/11/09 - Macbeth | Roman Polanski

14/11/09 - Dogville | Lars von Trier

21/11/09 - Marcas da violência | David Cronenberg

MÓDULO 8 – O fascismo hoje

28/11/09 - M, o vampiro de Düsseldorf | Frizt Lang

05/12/09 - Taxi Driver | Martin Scorsese

12/12/09 - Apocalypse now | Francis Ford Coppola

19/12/09 - Laranja mecânica | Stanley Kubrick

MÓDULO 9 – Cinema e revolução

09/01/10 - O anjo exterminador | Luis Buñuel

16/01/10 - O encouraçado Potemkin | Sergei Eisenstein

23/01/10 - O homem sem passado | Aki Kaurismaki

30/01/10 - Nós que nos amávamos tanto | Ettora Scola

MÓDULO 10 – O cinema nacional e a interpretação do Brasil

06/02/10 - São Bernardo | Leon Hirszman

20/02/10 - Deus e o diabo na terra do sol | Glauber Rocha

27/02/10 - Brás Cubas | Julio Bressane

28/02/10 - Macunaíma | Joaquim Pedro de Andrade

Fonte: site do Caixa Cultural

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