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Tropa de Elite 2: Fim do encanto

Quando assisti Tropa de Elite 2 fiquei baqueada e, ao mesmo tempo, esperançosa. Aquela narrativa de forte cunho político fazer sucesso com o grande público brasileiro foi algo que me deixou em êxtase. Cheguei a acreditar que o mal-entendido provocado pelo primeiro filme de José Padilha – quando chegaram a rotulá-lo como fascista – tinha sido desfeito e que as pessoas tinham entendido a mensagem do anti-herói Capitão Nascimento em momento de mea culpa. No entanto, após um dia do confronto histórico entre a polícia e os traficantes no Rio de Janeiro, mais especificamente no Complexo do Alemão, percebi que eu estava completamente enganada. O maniqueísmo continua na moda e como eu odeio a moda.

As pessoas não pensam nas estruturas existentes. Elas não vêem e não querem ver que as soluções para a crise de violência que vivemos há muitos anos não são imediatas. Sendo mais clara, para a maioria da população do Rio, matar os bandidos que aparecerem pela frente vai trazer tranquilidade para todos. Alcançaremos a tão sonhada paz. Uma das falas famosas do segundo filme Tropa de Elite: “O sistema é foda”. No entanto, como sempre, tudo é deturpado em favor do simplismo.

Pérolas como: “lá vem a galera dos direitos humanos” ou “deviam jogar uma bomba nestas favelas” ou ainda “direitos humanos enquanto a vítima destes caras não é um parente seu” pululam por todos os cantos. Certo, afinal o ódio sempre solucionou crises. A morte dos inimigos é a solução para tudo e estes inimigos são estes rapazes pobres, pretos e mirrados armados com fuzis vendidos por policiais corruptos; que passam pelas fronteiras sob o olhar de guardas comprados; fronteiras estas negligenciadas por funcionários públicos de alto escalão – leia-se políticos – totalmente fora de suspeita.

Ser racional é simplesmente “out” quando o assunto é violência no Rio. O negócio é mesmo matar todo mundo (que tem as características sociais para ocupar este papel de ser humano descartável). Apontar soluções não é uma tarefa fácil. Digo isto porque conheço bem pouquinho da situação das prisões neste país (que poderiam ser chamadas também de “Academia do crime” ou “Universidade para a violência”). As brechas no Judiciário encontradas por advogados espertinhos também são excelentes para a impunidade imperar. Mas não adianta, reitero, NÃO EXISTE SOLUÇÃO FÁCIL/IMEDIATA para um problema construído por tanto e tanto tempo.

Parece “papo da galera de direitos humanos”, mas a reforma necessária deve ser estrutural e séria. Educação, inclusão, justiça social e mais educação... apenas clichês. Vários países deram mostras de que essas obviedades são as respostas. Que fique claro que não estou invalidando as ações da polícia séria, polícia esta que tem mesmo que buscar resolver os problemas a curto prazo, como os assaltos, os ataques terroristas e a demonstração de poder em vários lugares do estado. Precisamos disto sim. No entanto, esta iniciativa sozinha não vai dar em nada. Alguns vão para a cadeia, outros morrem e mais garotos armados, dispostos e ávidos vão tomar os seus lugares. Parece pessimista, diante da alternativa Global de “Liberdade, liberdade... abra as asas sobre nós”, mas é assim que é. Não sei mais do que ninguém, só acho que a maioria está cega.

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O valor do documentário

"Mãe acho que vou ao cinema assistir ao filme do Senna". Resposta da mãe: "Você vai ao cinema para assistir documentário?". Apesar de retratar a opinião de muitos brasileiros sobre o este tipo de montagem fílmica, eu fiquei surpresa com o diálogo acima. Vivemos um momento de crescimento nunca visto nos documentários produzidos por aqui e acolá. Inclusive temos um post com assunto semelhante neste mesmo blog.

Um documentário pode ser tão brilhante como qualquer filme de ficção. É tão trabalhoso quanto (às vezes, até mais) e precisa de uma mão firme no roteiro e precisão cirúrgica na direção. Poetizar a realidade pode se mostrar ainda mais difícil do que criar a poesia. Posso estar me repetindo, mas, para mim, ficção e realidade são reinos muito próximos. Um documentário não é, nem nunca vai ser, um espelho de uma situação ou de algum personagem. É uma obra que se baseia em informações sobre algo/alguém para contar uma história. Mas, peraí, isto também é o filme ficcional.

A possibilidade de desvendar uma história com imagens, sons, entrevistas, luz, cor, emoção e, acima de tudo, momentos flagrados pela câmera, é deslumbrante. Sim, porque um documentário é construído através de flagras da realidade e não da realidade nua e crua. Nada nem ninguém está nu diante de uma câmera. Tudo é construção, desenho, afinal, arte. O filme com a premissa redundante "baseado em fatos reais" tem a riqueza de se tornar uma pílula de conhecimento cheia de som e fúria.

Momento filosofia... mesmo porque, a ficção sai de nós, então também compõe nossa realidade. Corroborando o que digo, temos o fato de que nem nós mesmos entendemos o que se passa nessa tal realidade. Real é verbo. Aprender, sentir, emocionar, tocar, encantar, viver...

Présenter des excuses pour la fraîcheur (Desculpas por tanta frescura)

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