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Vício: Top 5

Listas. Para alguns, apenas um amontoado aleatório de nomes ou coisas que não significam nada. Para outros, definição de personalidade. Se você já leu Alta Fidelidade de Nick Hornby ou assistiu a adaptação para as telonas com John Cusack no papel de Rob Fleming, dono de uma loja de discos que vive fazendo Top 5, e se identificou, parabéns: você também é um viciado em listas.

Não sou detalhista como o personagem de Hornby, mas gosto de fazer listas para música (discos ou faixas), filmes e livros. Como a música ocupa um espaço importantíssimo nos meus afazeres, o objetivo desse post é mostrar, através de um Top 5, o que há de melhor nas produções brasileiras atualmente, compilando faixas deste primeiro semestre. Sem ordem de preferência (mas em ordem alfabética), ei-los:


Apanhador Só - Paraquedas: Lançada em um compacto de mesmo nome, no site oficial da banda, a faixa-título mostra uma guinada interessante na carreira do quarteto, que aqui investe nas texturas e climas. Bom aperitivo para o segundo álbum.


Curumin - Passarinho: Curumin lançou a música no disco Arrocha, um dos favoritos desta casa. Mistura com classe o suingue de Jorge Ben (antes do Jor) e uma levada pop irresistível (vai dizer que você não consegue fechar os olhos e imaginar tocando na novela das 20h?) fechada em arranjos bem cuidados.


Emicida - 9 Círculos: O rapper Emicida flerta com o mainstream sem perder a veia articulada da crítica social. A música, gravada para um videogame, mostra o espectro de influências que vão de citações à Legião Urbana até o chamado miami bass que deu origem ao funk carioca. Certeira.


Letuce - Medo de Baleia: Formada por um casal, Lucas Vasconcellos e Letícia Novaes, o Letuce mistura na faixa sem deixar cair pop, rock permeado por experimentalismo e trip-hop em uma linguagem sedutora. Ouça Manja Perene, o segundo disco, e comprove. Afinal: "soluço também passa quando ele fica afim".



SILVA - 2012: Vindo direto do Espírito Santo, SILVA é projeto de Lúcio Silva de Souza, que cuida dos sintetizadores e da voz, sendo acompanhado por um baterista ao vivo. Filha de Guilherme Arantes e Ivan Lins (com méritos), a canção parece resumir o espírito deste ano e carrega um dos refrões mais bonitos.


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O Espetacular Homem-Aranha


"Precisamos falar com honestidade para as pessoas. Não há nada mais importante do que isso" Hanif Kureishi

A frase do escritor inglês dita na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), dentre muitas de que recebi através de relatos de amigos presentes, cabe perfeitamente para definir O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman).

O filme de Marc Webb (500 dias com ela), um reinício para a trilogia de Sam Raimi iniciada em 2002, já gerou burburinhos antes mesmo de sua concretização. Refilmar uma história contada 10 anos antes? É mesmo necessário?
A trilogia do Aranha de Raimi tem um ótimo início, um segundo filme ainda melhor e um dos finais mais decepcionantes para os fãs do personagem e de cinema, com uma história muito aquém do potencial desenvolvido nos primeiros.

Histórias de bastidores dizem que a pressão dos produtores sobre Raimi foi sufocante, o que fez o diretor perder a mão e abrir uma série de concessões, incluir um vilão não planejado e retocar o roteiro no arco final, o que resultou num filme confuso e sem alma.

Os fãs reclamaram que a história de Peter Parker com Mary Jane e a utilização de Gwen Stacy ficou em segundo plano, justo a parte mais interessante do contexto e com maior potencial, culminando num desfecho bobo, insosso. Baseado nisso, não ia demorar muito para que os produtores quisessem recontar a história do cabeça-de-teia nas telas novamente.

História de amor e de pessoas

O mote que guia Peter Parker/Homem-Aranha é sobre fazer escolhas. Qualquer decisão nossa leva a um caminho, às vezes inesperado e surpreendente. O pulo do gato é saber o que fazer com os resultados.

Weeb sabe exatamente o poder de suas escolhas. Várias passagens de O Espetacular Homem-Aranha homenageiam o original de Sam Raimi, mesmo porque o material disponível era praticamente o mesmo, mas com um senso muito mais humano e emocional.

Como história de origem, o filme é mais fiel aos quadrinhos que a estreia cinematográfica. Muita gente não sabe, mas o primeiro amor de Peter Parker antes de Mary Jane, foi a loirinha Gwen Stacy, sua colega de faculdade nos quadrinhos. Nos filmes de Raimi, essa etapa é pulada, com a conclusão introduzindo e subaproveitando a personagem, uma opção bastante infeliz, dada a importância dela para o universo do aracnídeo. 
Aqui, as motivações e escolhas de Peter que o transformam em Homem-Aranha, por exemplo, são mais críves. O mérito é do ator Andrew Garfield (o Eduardo Saverin, de A Rede Social), que entrega um personagem profundo e carregado de angústias, mais trabalhado que o de Tobey Maguire.

Desde o início (preste atenção na sequência de abertura) temos um garoto que busca se encontrar o tempo todo. À medida que vai fazendo suas escolhas, para o bem ou para o mal, Parker vê todas as consequências delas.

Ao contrário do personagem de Maguire, Garfield não tem esperanças de pertencer a um lugar/ambiente mas luta para provar a si mesmo suas capacidades.

A mola da trama é o crescimento de um adolescente, com todas as transformações (literalmente) envolvidas enquanto tenta conquistar a garota que ama. Uma história comum, uma das razões pelas quais nos identificamos com o personagem.

Voltamos, então, a Gwen Stacy (Emma Stone, de Superbad, Histórias Cruzadas), o interesse amoroso. Gwen é uma garota mais cativante que Mary Jane Watson (Kirsten Dunst) que, no primeiro filme, ficou praticamente reduzida ao papel de donzela em perigo.

A relação que eles desenvolvem ao longo dessa reestreia é muito mais verdadeira e tangível. A química entre os atores é tão boa que sai faísca. Não estranhe se você se pegar torcendo pelos dois. E sair apaixonado por Emma Stone.

O vilão-nem-tão-vilão-assim, Dr. Curt Connors (Rhys Ifans, Um Lugar Chamado Notting Hill, competente), o Lagarto, age motivado por um conflito interno: ajudar a si mesmo ou optar pelos benefícios que seus experimentos levariam à humanidade? Connors se distancia do ególatra Norman Osborn, o Duende Verde, (Willem Dafoe, no original), que faz experimentos em si mesmo para não perder um contrato de milhões com militares. Há desespero genúino. Pense em O Médico e o Monstro.

Considerado um vilão B na cronologia do Aranha, o Lagarto é uma boa escolha para começar a trilogia, que pode investir em vilões peso-pesados nas continuações já anunciadas após o filme faturar alto nas bilheterias. Lembrando que o Dr. Connors trabalha para a Oscorp, companhia de Osborn, que também é citado durante todo o filme...

A fita também explora o passado dos pais de Peter, fazendo um elo interessante com todo o desenrolar da história. Os tios Ben (Martin Sheen, Apocalypse Now, Wall Street, sensacional) e May (Sally Field, Forrest Gump, correta mas com pouco espaço) têm um relacionamento extremamente afetivo com Peter, e o carinho entre os três quase transpõe a tela. Uma família normal, afinal de contas.

A grande frase de Tio Ben na trilogia anterior "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades", também mote das HQs, não é dita aqui, mas o sentimento é palpável. As escolhas de Peter ao longo da trama refletem isso e falar mais seria dar um tremendo spoiler.

Grandes poderes, grandes responsabilidades

Vemos o herói em ação no filme? O tempo todo. Peter passa a ser o Homem-Aranha desde a transformação, não por motivos óbvios, mas nas entrelinhas. Acompanhar o desenvolvimento do personagem enquanto se adapta à sua nova realidade, já é o ponto de partida.

Os movimentos do Aranha são fluidos, concisos. Não há exagero nos efeitos especiais, que são bastante impressionantes, e o CGI, tão em voga em qualquer arrasa-quarteirão, é usado à favor da grandeza que o herói representa, inclusive entregando interessantes sequências em primeira pessoa.
As cenas de ação são equilibradas. Nada entregue é gratuito, embora não escapando do clichê em certos momentos. Infelizmente, a trilha sonora de James Horner é esquecível se comparada a de Danny Elfman, da trilogia anterior.

O roteiro, escrito por James Vanderbit (Zodíaco) e revisado por Alvin Sergeant (Homem-Aranha 2 e 3) e Steve Kloves (parte da série Harry Potter), derrapa algumas vezes, mas se mantém seguro e conciso no geral.

O Homem-Aranha é apenas um cara que quer consertar um dos erros de sua vida e ganhar o coração da garota pela qual é apaixonado. Mesmo sob a máscara, ele não perde sua inocência. Poderia ser qualquer pessoa. Ou a história de qualquer pessoa.


No fim, os erros e acertos pertecem a Marc Webb. O diretor imprime seu estilo em um blockbuster e contorna tranquilamente os furos do script empregando uma carga de veracidade e paixão tamanha que tem tudo para superar a trilogia anterior. 

O trio Weeb-Garfield-Stone segue à risca o aforismo de Kureishi. O trunfo de O Espetacular Homem-Aranha reside justamente em sua honestidade. Que venham as continuações.


O Espetacular  Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, EUA - 136 minutos). Nota: 4,5/5

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Desenhos animados consolidam uma tradição cinematográfica de gente grande


Sempre gostei de assistir desenhos animados na televisão. Mesmo atualmente, aos 24 anos, prefiro um bom desenho a quase todo o restante da grade de TV aberta no Brasil. No entanto, em relação ao cinema, sempre vi a animação como um aspecto secundário da sétima arte. Foi aí que me enganei. A evolução dos longa-metragens de animação nos últimos é incrível e tem nos dado filmes com uma sensibilidade incomparável.

A riqueza da linguagem e o apuro técnico cada vez mais sofisticado fornece a estas obras o status de arte superior (além do inquestionável poder comercial). A empresa toda-poderosa deste setor é historicamente The Walt Disney, o gigantesco conglomerado de mídia e entretenimento, fundado em 1923. São incontáveis as obras de sucesso deste estúdio e é necessário ao menos lembrar algumas que estão na história de cada um, cinéfilo ou não, que ler este texto: "Branca de Neve e os Sete Anões", "Cinderela", "Fantasia", "Alice no país das maravilhas", "Peter Pan", "A bela adormecida", "Aladdin", "O Rei Leão",...



No entanto, nos últimos 14 anos quem domina o setor é o grupo empresarial - ligado à Disney e depois comprado por ela - criado por George Lucas, em 1986, através da Lucasfilm, com apoio financeiro de Steve Jobs, a Pixar Animation Studios. A Pixar surgiu arrasadora com o sucesso absoluto de crítica e bilheteria Toy Story (1995). Junto com a Dreamworks, a força das produções em desenho animado da Pixar presionou a Academia para a criação do Oscar de Melhor Filme (longa-metragem) de Animação*. A primeira participação desta categoria na maior cerimônia de premiação do cinema mundial ocorreu em 2002, tendo como vencedor o adorável ogro Shrek (Dreamworks).

De lá para cá, a Pixar "dominou geral" e venceu seis das 10 premiações. Os vencedores são os arrasa-quarteirões: "Procurando Nemo", "Os incríveis", "Ratatouille", "Wall-E", "UP-Altas aventuras" e "Toy Story 3". É claro que não pretendo limitar as boas produções cinematográficas de animação aos filmes da Pixar, mas há de se convir que a empresa mudou a forma como assistimos desenhos e ampliou muito o alcance destas obras.

Mas neste papo de gigantes norte-americanos, quero salientar a existência de um filme inteligente, doce e inesquecível, mas diferente. "A viagem de Chihiro" é uma animação japonesa de 2001 dirigida por Hayao Miyazaki e produzida pelo Studio Ghibli. Vencedor do Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 2002, e do Oscar de Melhor Animação em 2003, "A viagem..." representa uma estética peculiar - para os ocidentais - com uma narrativa complexa e acurada, mas absolutamente universal e encantadora. (Detalhe importante, em vários países do mundo, este filme foi distribuído adivinha por quem? Walt Disney Studio!).



E ainda quero reservar um espaço destacado para falar de "Wall-E" e "Toy Store 3". O primeiro é um caso à parte na história recente do cinema. A desconfiança que senti nos primeiros minutos de quase total silêncio se dissiparam rapidamente. Fiquei surpresa ao me encantar gradativamente com roteiro e direção, cujos responsáveis foram Andrew Stanton e Jim Reardon, de extrema qualidade. É um filme incrível, emocionante, baseado em uma premissa difícil de se comprar à primeira leitura**.

O fenômeno "Toy Story 3" é outro caso interessante. O terceiro filme de uma franquia bem-sucedida se saiu ainda melhor do que seus pares, acontecimento raro no que diz respeito a sequências. Um filme "de criança" que fez muito marmanjo chorar com um forte apelo à nostalgia que sentimos quanto às vivências da infância e as mudanças de prioridade com o passar do tempo.





Esta postagem vem a calhar ainda porque este ano o festival brasileiro Anima Mundi completa 20 anos de existência. O Festival Internacional de Animação ocorre anualmente no mês de julho no Rio e em São Paulo e trata-se do maior da América Latina. Durante o festival são exibidos curtas, médias e longas-metragens, seriados e comerciais. As linguagens narrativas e técnicas são as mais variadas e o festival não exige nenhum critério específico.

Assista ao trailer do vencedor do último festival:



*Na cerimônia do Oscar, contamos com a premiação de Melhor Curta-Metragem de Animação desde 1932. Predominam na lista de vencedores desde então a já citada Disney, a Metro-Goldwyn-Mayer (Tom & Jerry) e a Warner Bros.

**Em 2700, a Terra não é mais habitada por humanos, que agora vivem na nave Axiom. O planeta foi transformado em um imenso depósito de lixo, e os homens ainda tinham a esperança de conseguir limpar nosso mundo quando decidiram contratar a empresa Buynlarge Corporation, encarregada de limpar a Terra. Para isso, enviou milhares de robôs programados para coletar o lixo. Mas essas máquinas não deram conta da tarefa e começaram a pifar, até que apenas uma restou, Wall-E. Todos os dias, sua rotina é catar o lixo que encontra pela frente a fim de cumprir a improvável tarefa de limpar o planeta. A vida do robô toma um novo rumo quando uma nave pousa na Terra e dela sai Eva, uma nova robozinha.

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As visões de Grimes

Grimes é o projeto de uma mulher só. A jovem canadense Claire Boucher, 24 anos, começou a se interessar por música eletrônica enquanto estava na faculdade, em Montreal. Rapidamente começou a gravar sons experimentais e imergir na cena de sua cidade. Em outro salto, Grimes gravou seu primeiro álbum e contabiliza três no currículo. O último, Visions, primeiro assinado por uma gravadora, foi lançado em janeiro deste ano.


Para compor o disco, Boucher ficou 9 dias isolada e relatou que, após o período, todas as canções tomaram forma e foram levemente lapidadas. Mesmo com dicas e dicas de amigos e o hype da imprensa estrangeira (melhor desconfiar), demorei para chegar até Grimes. Deveria ter feito isso antes. Se você está lendo isso, pode ir na fé.


Grimes se parece com um monte de coisas que nós já ouvimos. Todas as influências aparentes (eletro, r'n'b, j-pop, dream pop) se unem e a sensação de frescor é clara: estamos diante de algo novo. Mesmo com esse leque vasto, o disco é extremamente coeso. Músicas para pistas de dança? Estão lá. Músicas para viajar? Estão lá. Para dançar e viajar? Também. 

A voz de Boucher está nas entrelinhas, conduzindo ou fazendo cama para as batidas e os sintetizadores. Funciona e aí está a diferença. Como artistas de vozes únicas, ou você gosta muito ou odeia. As visões de Grimes são tortuosas algumas vezes, desfocadas em outras mas, principalmente, arrebatadoras. Vale a viagem.

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