
Diante do fenômeno Matrix, darei o braço a torcer. Porém antes devo explicar o motivo de minhas restrições com relação à saga de maior sucesso dos irmãos Wachowski. Há algum tempo tentei assistir Matrix e, assim como quando vi Star Wars, acabei dormindo. É raro que algum cine-fanático como eu durante a exibição de filmes da "amplitude cinematográfica" desses dois. Minha conclusão foi: "essa definitivamente não é a minha". E deixei de lado. Mas não por muito tempo.
Soma-se aos contras (na formação de minha opinião a respeito do filme), o fato dele ser um marco no trabalho com um gênero narrativo rocambolescamente digital-futurista. Gênero do qual eu fujo, quase sempre.
No entanto, sou uma pessoa que gosta de se despir de preconceitos. E seguindo essa linha de pensamento, de cunho auto-meliorativo, tenho como resolução assistir todas as minhas cismas mais de uma vez. Tenho concretizado essa vontade com algumas delas.
Matrix é o filme da vez; revisitei e gostei. Para isso, tive de alcançar um olhar diferenciado, mais atento e mais receptivo. Para alguém que pensa como eu, isso é definitivamente necessário. Diria primordial; há de se abstrair. Afinal estamos falando de uma trama de imaginação bem fértil, mas que não se limita a explodir tudo na tela de forma desatinada. Os artifícios de efeitos visuais vêm para complementar e sustentar esse enredo insólito.
Um dos quesitos que mais me agradou na película foi que, em contraposição a outras do mesmo tipo, as explicações teóricas oferecidas são boas. Por serem extremamente coesas e coerentes (na medida do possível), não precisa-se ler um manual "nerd" para compreender a história. Vemos habitualmente uma série de trabalhos de mesmo tom sem um esclarecimento convincente. Ficção é ficção, só que para ser envolvente temos que passar a acreditar nela. Pelo menos durante o tempo em que nos propusemos entregar nossos "corações e mentes" (nome de documentário de Moore) ao filme.
Dentre os vários pontos positivos estão os figurinos, as boas atuações (que poderiam tender à canastrice, por conta do tema), as cenas de luta realmente empolgantes (detalhe: não gosto dos típicos "filmes de luta"), além dos pontos tocantes a limitações puramente humanas e atemporais. O mote de luta pela liberdade - presente em outras produções de Larry e Andy Wachowsky, como "V de Vingança" - é focado de maneira atraente. Freedom for your mind. E o talento de Lawrence Fishburne (em um personagem cheio de significados paralelos, muito interessante), como Morpheus, é o mais importante vínculo com a lógica narrativa.
Pode-se dizer que a parte que menos gostei foi o bizarro ritual de passagem, a libertação de Neo (Reeves) do universo de matrix. Até entendi a que ele serviu e porque ele era do jeito que era. Mas ninguém pode negar: é nojento.
Enfim, acho que uma das coisas mais pertinentes numa contrução estilo Matrix é a verossimilhança. E a idéia de vivermos em um mundo falso e de sermos subjugados por uma força de maior instância (no caso do filme, experiências tecnológicas nossas mal-sucedidas) não nos é tão inimaginável. Aliás, essa é uma possibilidade na qual penso frequentemente. Tá bom, também não vou exagerar nas minhas viagens filosóficas, mas o filme dá essa deixa, sem dúvida.
Para quem quiser uma análise mais acadêmica e quase completa clique aqui
Grata, s'excuser pour l'excès de digression. E por favor apaguem a luz.
3 comentários:
Desculpe, mas acho que você se rendeu tarde demais ao fenômeno Matrix.
Aliás, o 'fenômeno Matrix' já se encerrou faz pelo menos uns quatro anos.
Abraços.....
Flávio,
meu compromisso não foi com um lançamento, mas com uma revisita, assim como afirmei na postagem. E quando digo "fenômeno Matrix" não falo de uma coisa nova, mas de um debate sem prazo de validade. Discussão essa que ganhou muitas teorias e estudos em diversas esferas, além da opinião de curiosos como eu.
Grata
Adorei o recorte que você fez do filme e também concordo que a cena do renascimento do Neo é nojenta, contudo necessária para o filme.E bem-vinda ao "Fenômeno Matrix"!!!
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