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Pequenos tesouros #2: Drive

Drive, filme de 2011 do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn é baseado no livro do escritor James Sallis, publicado em 2005. Em cada fotograma é uma obra-tributo a, principalmente, um tipo de personagem ou arquétipo de Hollywood: o homem sem nome, de poucas palavras e olhar vago que, no final, se torna um herói e salva o dia geralmente sacrificando algo (sua liberdade, seu futuro ou mesmo sua vida).

Muitos atores graúdos já interpretaram tais figuras: Lee Marvin, Ryan O'Neal, Steve Mcqueen e Clint Eastwood, este com mais destaque na famosa Trilogia de Sergio Leone. Entre caubóis, matadores de aluguel e ladrões, o motorista encontra seu espaço na galeria por meio de Ryan Gosling. O próprio O'Neal interpretou um semelhante em The Driver, de Walter Hill, uma das fitas que serviram de inspiração para Drive.

Mas a película não fica só na homenagem, sendo um exercício de estilo revigorante do gênero. Há momentos de ação e perseguição permeados por constante tensão, que ficam em segundo plano mediante ao ritmo controlado imposto pelo diretor desde o início, com a sequência de fuga mostrada como um jogo de gato e rato. Era possível recorrer a uma abordagem clássica e dar o que a audiência esperava , mas Winding Refn prefere entregar ao espectador quem é o personagem atrás do volante.

É preciso frisar que o diretor presta reverência à Hollywood, temos um dublê como protagonista, além de mecânico de dia e piloto de fuga à noite, agindo para quem pagar o preço, sob rígidas regras de conduta.

Quando conhece e se apaixona gradualmente (mas rapidamente) pela garçonete Irene (Carey Mulligan, em atuação discreta), que cuida do filho Benício, fruto de seu relacionamento com Standard (Oscar Isaacs, competente), que está preso, somos levados à jornada de redenção e desconstrução da moral do Motorista.

Quando decide ajudar Standard a se livrar de uma dívida com criminosos, começa o primeiro conflito do protagonista, ainda que opaco. A recusa de um trabalho a um desconhecido seria o rompimento óbvio com o universo que o Motorista gravitava.

Paralelamente, para ajudar Shannon (O ótimo Bryan Cranston) o dono da oficina mecânica, se envolve em um projeto com os mafiosos, não por acaso, judeus, Nino (Ron Perlman, confortável) e Bernie Rose (Albert Brooks, o grande injustiçado no Oscar do ano passado).

Daí em diante, Drive se desenvolve acompanhando o herói que muda sua moral enquanto perde o controle das situações ao redor, amparado pela mão segura de Winding Refn, até a reviravolta na memorável e bela cena do elevador. Muda-se a moral, mas não a natureza. A jaqueta de escorpião não é mero objeto, afinal de contas.

Tecnicamente, Drive não é perfeito e nem almeja a condição. Se a intenção é fazer justiça à produções semelhantes do passado, entrega um misto interessante de iconografia clássica com a paixão pelos anos 80, sem enxergar a década como uma Festa Ploc. As luzes, muitas, a trilha sonora (excelente), os diálogos controlados.

Entre a celebração da estética e um roteiro puramente simples, temos um grande filme, daqueles que ocupam as lembranças para além de sua época.

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Um Festival do Rio não aproveitado: as aventuras de ver um filme muito ruim


Não sei se ainda posso dizer que sou cinéfila, estou no meio de uma crise "existencial" com o cinema. As mudanças, a falta de tempo, as viagens... tudo isto está tirando substancialmente o tempo que dedico a assistir filmes, ler sobre a sétima arte, conversar sobre os rumos das telas. Pode parecer frescura - e provavelmente é -, mas é assim que me sinto.

Um dos símbolos da minha falta de atenção com a efervescência da minha área favorita no mundo das artes foi minha quase total ausência de qualquer coisa ligada ao Festival do Rio, além do longo tempo sem postar no blog. A falta de envolvimento chegou a tal ponto, que confundi o resultado do Grande Prêmio de Cinema Brasileiro com o do Festival, em uma leitura rasa.

Mas enfim, este não é um texto-penitência, escrevo para contar a experiência de assistir um filme que entrou para o TOP-10 dos piores que já vi na vida. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, de vez em quando, gosto de entrar em uma sala de cinema sem ter todas as informações sobre o que vou assistir, meio que às cegas. E foi o que aconteceu no caso do único filme que consegui ver do Fest-Rio: "Los Chidos".

Uma das cenas de confusão, gritaria, música alta e nenhum sentido de "Los Chidos"
Saí da sala do Estação Botafogo sem saber o que pensar. Mas insisto que mesmo as experiências ruins - e até as péssimas - carregam um grande aprendizado que, em alguns casos, precisamos de um segundo olhar, mais acurado, para assimilar. "Los Chidos" é uma película que aborda a vida de uma família de Guadalajara que "administra" uma borracharia, mas que prefere passar o tempo comendo tacos e vendo televisão.

Uma crítica em espanhol da Associated Press, que entrevistou o diretor da obra Omar Rodríguez López, ressaltou alguns pontos nos quais vi muitas semelhanças com os intentos de muitos diretores de cinema Brasileiros.

O filme é uma pretensa crítica ao machismo, à homofobia e à violência contra as mulheres da sociedade latina. Abusando de piadas de humor para lá de duvidoso e uma narrativa esquizofrênica e barulhenta, o lance é chocar, o tempo inteiro. Na parte do "a realidade é suja e nojenta, então quero jogar isto na sua cara da forma mais repulsiva possível", eu lembrei vivamente de tudo que já assisti do diretor brasileiro Cláudio Assis.

Mais especificamente, esta "ousadia" para lidar com temas considerados tabus da sociedade, me lembrou o filme (que acho desprezível, particularmente) "Baixio das bestas". O filme de López é uma comédia e, realmente, houve muitas risadas durante a exibição, só que a maioria delas era de nervoso... Até cena de coprofilia (só o Google salva) rolou.

Minha opinião é a seguinte: a crítica pode se tornar um véu que justifique um filme grosseiro e, muitas vezes, de qualidade ruim. O pseudo trash estilizado - caso do filme mexicano em questão - pode ser simplesmente uma obra de mau gosto. A questão de "tocar na ferida" de temas caros à sociedade nem sempre produz um filme atraente, interessante.

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Pequenos tesouros #1: Submarine

Com esta postagem, inauguramos uma mini-sessão dentro do blog. Por quê Pequenos Tesouros? Para se enquadrar na categoria, o filme em questão não deve figurar em lista de clássicos (afetivos, como Os Goonies, ou incontestes, como Cidadão Kane) e, infelizmente, não ser conhecido por muitas pessoas fora do seu país de origem. As outras condições são, surpresa, a obra ser merecedora do apreço dos cinéfilos e merecer ser conhecida por muito mais gente.

Posto isto, vamos lá. Escolhi um filme de estreia de um diretor (e também ator, roteirista e comediante) inglês chamado Richard Ayoade. Nunca ouvir falar? Eu também não. Conheci Submarine (Reino Unido, 2010, 97 min) quando amigos me indicaram o trabalho solo do cantor/compositor e guitarrista do Arctic Monkeys, Alex Turner. Como apreciador do trabalho dos macacos, fui checar e descobri que as canções foram feitas para a trilha sonora do longa. As faixas são, na verdade um EP, com apenas seis músicas e duração de 20 minutos. Gostando delas, fui ao filme.
Submarine é uma comédia-dramática baseada no livro homônimo de Joe Dunthorne, lançado em 2008 na Inglaterra. A história se passa em meados dos anos 80 e acompanha a trajetória de Oliver Tate (Craig Roberts, vindo de filmes feitos para a TV britânica), um adolescente que mora em uma cidadezinha litorânea no País de Gales e convive com pais um tanto distantes entre si, Loyd e Jill Tate, interpretados pelos ótimos Noah Talyor (de Shine, Quase Famosos e Vannila Sky) e Susan Hawkins (O Sonho de Cassandra, Educação) enquanto se apaixona pela garota-problema do seu colégio, Jordana (Yasmin Paige, também egressa de série de TVs).

Quando um novo vizinho chega, o guru Graham Purvis (Paddy Considine, excelente, de A Festa Nunca Termina, A Luta pela Esperança) um antigo caso da mãe de Oliver chega ao pacato bairro onde vivem, as bases para o filme estão lançadas. E a história caminha por esses dois pólos, mostrando como Oliver lida com as situações apresentadas. Não vou dar spoilers, mas posso adiantar que o desenvolvimento foge bastante das soluções convencionais do cinema e clichês do gênero. Ou seja, espere humor ácido, típicos dos britânicos, e momentos densos.
Voltando à trilha, a jornada de Oliver é permeada pelas canções de Alex Turner e os arranjos orquestrais de Andrew Hewitt, ambos amigos de longa data do diretor. As canções e intervenções acidentais caem como uma luva para os momentos da fita. As orquestrações de Hewitt geralmente marcam pontos de virada, momentos mais dramáticos ou mesmo o fim de um arco. Já as músicas de Turner embalam os encontros e desencontros de Oliver, seus pensamentos e viagens etéreas. Essencialmente, violão e voz são acompanhados discretamente por bateria, baixo e teclados. E funciona que é uma beleza.

O filme bem recebido por crítica e o parco público fora do Reino Unido. Richard Ayoade foi indicado ao BAFTA por Melhor Estreia e Submarine arrecadou o dobro do seu custo de produção. Já vimos histórias de crescimento/amadurecimento/auto-conhecimento/amor antes, mas aposto que poucas delas vão te fazer abrir um sorriso largo no fim. Como encontrar um pequeno tesouro.



Bateu a curiosidade?
Clique aqui para ver o link do filme completo e legendado no Youtube (É só clicar na legenda em português, esta lá)
Clique aqui para baixar a trilha sonora (Escolha Regular Download e espere um minutinho)


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E quando o sexo é reducionista?

O sexo no cinema é um assunto que dá pano para manga. Dificilmente, o tema está completamente ausente de algum filme. Seja em forma de piadas, insinuações, mentalizações, ou efetivamente em cenas coreografadas e feitas para mexer com a libido dos espectadores. Eu arrisco dizer que a relação sexual está presente em 90% das produções cinematográficas de todo o mundo de alguma maneira.

Até aí, não há nada demais. Afinal, é algo concernente à natureza humana e é disso que os filmes tratam. Acontece que o sexo é impulso, assim como a violência - é só lembrar dos instintos de vida e de morte freudianos. A atração gerada por estes temas é algo praticamente incontrolável, um nível abaixo (ou acima, depende do ponto de vista) de emoções mais elaboradas, que surgem a partir de um repertório da vida.

Cena de 'Má Educação', com Enrique (Fele Martínez) e Ignacio (Gael García Bernal)
É claro que existe uma lista enorme de filmes que souberam usar este tipo de estímulo para contar uma história de forma magistral. E é claro, da mesma forma, que existem filmes que não tem interesse em contar história alguma, pois esta é o pano de fundo para o que realmente os interessa: as cenas de sexo. Na primeira categoria, posso destacar os excelentes "E sua mãe também", "Má educação" (Almodóvar), "Namorados para sempre" (Derek Cianfrance), entre centenas de outros. Já na segunda, temos os soft porn nível Emmanuelle, e outros (milhares) que mascaram seus objetivos voyeristas em uma trama "dramática".

Podemos colocar nesta segunda lista quase toda a produção das pornochachadas brasileiras, mas não é somente no Brasil que isto ocorre. Para ilustrar o que quero dizer com a postagem, vou usar a produção britânica "9 canções". Sua história gira em torno das lembranças de um climatólogo sobre um relacionamento com uma estudante norte-americana durante um festival de rock em Londres.


As cenas explícitas de sexo são várias durante a narrativa. Que fique claro que não sou moralista e sei que o mercado é forte para produções deste tipo. O que quero dizer é que (se preparem para a metáfora) o sexo em "excesso" para um filme é como eucalipto em uma plantação. Não há espaço para nenhuma outra emoção. No caso do citado filme, por exemplo, as músicas se tornam esquecíveis e descaracterizam o próprio título. Torna-se um filme feito para excitar, o que não é necessariamente negativo quando é o que o público busca, mas é reducionista. Como o próprio trailer do filme ressalta é um "cinema sensação", mas vazio de sentido.

Na Internet, uma rápida busca sobre o filme, nos traz uma série de afirmações que apontam para toda a sexualidade e como ele é inovador no realismo nas cenas. E só. É tratado como uma obra de teor erótico rico - o que não é possível negar - e compartilhada como pornografia em diversos sites de origem duvidosa. É vazio, limitador. O diretor Michael Winterbottom construiu uma obra experimental que quando sai da cama perde o sentido. Assim como diversas outras.

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Um ensaio sobre os clichês do cinema


O clichê costuma ser demonizado pelos críticos mais tarimbados. Volta e meia, quando o objetivo é detonar uma obra cinematográfica, escreve-se: "o filme é repleto de clichês". Meu texto vem na contramão para dizer: o clichê é extremamente importante para o cinema, assim como para a arte em geral.

É claro que o exagero não é bem-vindo. Mas, afinal, quando o excesso cai bem? É raro, muito raro. No entanto, é praticamente impossível construir a narrativa de um longa-metragem escapando todo o tempo dos clichês. Seria uma tarefa ingrata e chata. O termo define a utilização de repetições que ajudam a passar uma mensagem de forma mais simples, facilmente inteligível.

O amor é clichê. A luta pela vida é clichê. O óbvio é a linha que costuma formar a unidade narrativa. O cinema americano, de tradição comercial incontestável mesmo para os antiamericanos, é conhecido por ter uma produção baseada em esquemas desde o período clássico (1920), incluindo aí o "happy ending".

Que fique claro, estou falando de um cinema comercial. Aquele que atrai uma multidão às salas e cria um mercado forte até mesmo para a produção independente (que não deixa de ter seus chavões também). O cinema é uma arte, mas também é um jogo que envolve dinheiro, entretenimento massivo, planejamento.

Relembre a abertura do "Rio" de clichês que encantou boa parte do mundo! (E perdemos o Oscar, de novo...)


O interessante é saber usar o lugar-comum como parte e não como o todo. O filme "Rio", do diretor Carlos Saldanha, foi muito criticado (fonte: entreouvidos) por tratar a Cidade Maravilhosa sob o tripé: carnaval + mulata + belezas naturais. Mas, digamos, que fugir disto em um desenho construído para representar a imagem do Rio internacionalmente era praticamente impossível.

É claro que eram estereótipos sendo reproduzidos na tela grande, mas nada ofensivo e burro. É um elemento facilitador (e, sim, por vezes limitador), mas a comunicação precisa disso. Para ilustrar o que digo, segue abaixo um lista (pseudoengraçadinha) com alguns dos principais chavões presentes nas películas norte-americanas, leia-se Hollywood (sobrando para quase todos os outros países).

1 - Ódio entre homem e mulher = atração sexual irresistível.

2 - Investigações policiais e detetivescas começam por casas noturnas.

3 - Após ser espancado impiedosamente por seus adversários, os fortões dos filmes de ação não aguentam ter seus ferimentos limpos pela mulher amada.

4 - Após as batidas, os carros sempre explodem.

5 - Romances com promessas de amor eterno são interrompidos pela menor presença de alguém minimamente atraente (mas com um temperamento insuportável).

6 - A tosse é normalmente o sinal de uma doença fatal.

7 - Todas as bombas estão equipadas com relógios que dizem exatamente quando irão explodir.

8 - Inimigos preferem esnobar e ridicularizar os protagonistas antes de matá-los (até que alguém chegue para salvá-los).

9 - Um barulho em um local escuro, úmido e assustador sempre deve ser investigado de perto, de preferência sem companhia.

10 - Os finais românticos são obrigatoriamente preenchidos por uma tomada panorâmica a partir do beijo. A câmera se afasta e os créditos surgem.

11 - Mesmo sem norte-americanos em cena, todos preferem falar inglês.

12 - Ao conduzir um carro é normal não olhar para a estrada, mas sim para a pessoa do lado durante toda a viagem (essa é clássica e citada no "Fabuloso destino de Amélie Poulain"). E dirigir em linha reta exige que o volante seja movimentado para a direita e para a esquerda.

13 - Empregos fazem os pais esquecerem a data do aniversário dos filhos carentes.

14 - Fugas desesperadas de carro sempre esbarram em blitzes da polícia.

15 - Pessoas boas não podem ficar solteiras ao fim do filme (esta me afeta pessoalmente hehehehe). Ah, e todas as mulheres solitárias têm um gato (de novo).

16 - Os babacas, no fundo, são super sensíveis e vão acabar se tornando o grande amor da vida das mocinhas.

17 - Cães farejam quem são as pessoas ruins.

18 - Aeroportos são os locais exatos para as reconciliações amorosas, principalmente se o voo de quem vai viajar for chamado.

19 - Em filmes sobre esportes, o último ponto/gol/cesta é feito exatamente no último segundo da partida, após uma inferioridade evidente em todo o resto do tempo.

20 - O bandido vai disparar 200 vezes, mas o mocinho sempre será atingido apenas por um tiro e ele será no ombro ou na perna.

(Alguns itens da lista foram retirados do site: http://www.mdig.com.br/)

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Vício: Top 5

Listas. Para alguns, apenas um amontoado aleatório de nomes ou coisas que não significam nada. Para outros, definição de personalidade. Se você já leu Alta Fidelidade de Nick Hornby ou assistiu a adaptação para as telonas com John Cusack no papel de Rob Fleming, dono de uma loja de discos que vive fazendo Top 5, e se identificou, parabéns: você também é um viciado em listas.

Não sou detalhista como o personagem de Hornby, mas gosto de fazer listas para música (discos ou faixas), filmes e livros. Como a música ocupa um espaço importantíssimo nos meus afazeres, o objetivo desse post é mostrar, através de um Top 5, o que há de melhor nas produções brasileiras atualmente, compilando faixas deste primeiro semestre. Sem ordem de preferência (mas em ordem alfabética), ei-los:


Apanhador Só - Paraquedas: Lançada em um compacto de mesmo nome, no site oficial da banda, a faixa-título mostra uma guinada interessante na carreira do quarteto, que aqui investe nas texturas e climas. Bom aperitivo para o segundo álbum.


Curumin - Passarinho: Curumin lançou a música no disco Arrocha, um dos favoritos desta casa. Mistura com classe o suingue de Jorge Ben (antes do Jor) e uma levada pop irresistível (vai dizer que você não consegue fechar os olhos e imaginar tocando na novela das 20h?) fechada em arranjos bem cuidados.


Emicida - 9 Círculos: O rapper Emicida flerta com o mainstream sem perder a veia articulada da crítica social. A música, gravada para um videogame, mostra o espectro de influências que vão de citações à Legião Urbana até o chamado miami bass que deu origem ao funk carioca. Certeira.


Letuce - Medo de Baleia: Formada por um casal, Lucas Vasconcellos e Letícia Novaes, o Letuce mistura na faixa sem deixar cair pop, rock permeado por experimentalismo e trip-hop em uma linguagem sedutora. Ouça Manja Perene, o segundo disco, e comprove. Afinal: "soluço também passa quando ele fica afim".



SILVA - 2012: Vindo direto do Espírito Santo, SILVA é projeto de Lúcio Silva de Souza, que cuida dos sintetizadores e da voz, sendo acompanhado por um baterista ao vivo. Filha de Guilherme Arantes e Ivan Lins (com méritos), a canção parece resumir o espírito deste ano e carrega um dos refrões mais bonitos.


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O Espetacular Homem-Aranha


"Precisamos falar com honestidade para as pessoas. Não há nada mais importante do que isso" Hanif Kureishi

A frase do escritor inglês dita na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), dentre muitas de que recebi através de relatos de amigos presentes, cabe perfeitamente para definir O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman).

O filme de Marc Webb (500 dias com ela), um reinício para a trilogia de Sam Raimi iniciada em 2002, já gerou burburinhos antes mesmo de sua concretização. Refilmar uma história contada 10 anos antes? É mesmo necessário?
A trilogia do Aranha de Raimi tem um ótimo início, um segundo filme ainda melhor e um dos finais mais decepcionantes para os fãs do personagem e de cinema, com uma história muito aquém do potencial desenvolvido nos primeiros.

Histórias de bastidores dizem que a pressão dos produtores sobre Raimi foi sufocante, o que fez o diretor perder a mão e abrir uma série de concessões, incluir um vilão não planejado e retocar o roteiro no arco final, o que resultou num filme confuso e sem alma.

Os fãs reclamaram que a história de Peter Parker com Mary Jane e a utilização de Gwen Stacy ficou em segundo plano, justo a parte mais interessante do contexto e com maior potencial, culminando num desfecho bobo, insosso. Baseado nisso, não ia demorar muito para que os produtores quisessem recontar a história do cabeça-de-teia nas telas novamente.

História de amor e de pessoas

O mote que guia Peter Parker/Homem-Aranha é sobre fazer escolhas. Qualquer decisão nossa leva a um caminho, às vezes inesperado e surpreendente. O pulo do gato é saber o que fazer com os resultados.

Weeb sabe exatamente o poder de suas escolhas. Várias passagens de O Espetacular Homem-Aranha homenageiam o original de Sam Raimi, mesmo porque o material disponível era praticamente o mesmo, mas com um senso muito mais humano e emocional.

Como história de origem, o filme é mais fiel aos quadrinhos que a estreia cinematográfica. Muita gente não sabe, mas o primeiro amor de Peter Parker antes de Mary Jane, foi a loirinha Gwen Stacy, sua colega de faculdade nos quadrinhos. Nos filmes de Raimi, essa etapa é pulada, com a conclusão introduzindo e subaproveitando a personagem, uma opção bastante infeliz, dada a importância dela para o universo do aracnídeo. 
Aqui, as motivações e escolhas de Peter que o transformam em Homem-Aranha, por exemplo, são mais críves. O mérito é do ator Andrew Garfield (o Eduardo Saverin, de A Rede Social), que entrega um personagem profundo e carregado de angústias, mais trabalhado que o de Tobey Maguire.

Desde o início (preste atenção na sequência de abertura) temos um garoto que busca se encontrar o tempo todo. À medida que vai fazendo suas escolhas, para o bem ou para o mal, Parker vê todas as consequências delas.

Ao contrário do personagem de Maguire, Garfield não tem esperanças de pertencer a um lugar/ambiente mas luta para provar a si mesmo suas capacidades.

A mola da trama é o crescimento de um adolescente, com todas as transformações (literalmente) envolvidas enquanto tenta conquistar a garota que ama. Uma história comum, uma das razões pelas quais nos identificamos com o personagem.

Voltamos, então, a Gwen Stacy (Emma Stone, de Superbad, Histórias Cruzadas), o interesse amoroso. Gwen é uma garota mais cativante que Mary Jane Watson (Kirsten Dunst) que, no primeiro filme, ficou praticamente reduzida ao papel de donzela em perigo.

A relação que eles desenvolvem ao longo dessa reestreia é muito mais verdadeira e tangível. A química entre os atores é tão boa que sai faísca. Não estranhe se você se pegar torcendo pelos dois. E sair apaixonado por Emma Stone.

O vilão-nem-tão-vilão-assim, Dr. Curt Connors (Rhys Ifans, Um Lugar Chamado Notting Hill, competente), o Lagarto, age motivado por um conflito interno: ajudar a si mesmo ou optar pelos benefícios que seus experimentos levariam à humanidade? Connors se distancia do ególatra Norman Osborn, o Duende Verde, (Willem Dafoe, no original), que faz experimentos em si mesmo para não perder um contrato de milhões com militares. Há desespero genúino. Pense em O Médico e o Monstro.

Considerado um vilão B na cronologia do Aranha, o Lagarto é uma boa escolha para começar a trilogia, que pode investir em vilões peso-pesados nas continuações já anunciadas após o filme faturar alto nas bilheterias. Lembrando que o Dr. Connors trabalha para a Oscorp, companhia de Osborn, que também é citado durante todo o filme...

A fita também explora o passado dos pais de Peter, fazendo um elo interessante com todo o desenrolar da história. Os tios Ben (Martin Sheen, Apocalypse Now, Wall Street, sensacional) e May (Sally Field, Forrest Gump, correta mas com pouco espaço) têm um relacionamento extremamente afetivo com Peter, e o carinho entre os três quase transpõe a tela. Uma família normal, afinal de contas.

A grande frase de Tio Ben na trilogia anterior "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades", também mote das HQs, não é dita aqui, mas o sentimento é palpável. As escolhas de Peter ao longo da trama refletem isso e falar mais seria dar um tremendo spoiler.

Grandes poderes, grandes responsabilidades

Vemos o herói em ação no filme? O tempo todo. Peter passa a ser o Homem-Aranha desde a transformação, não por motivos óbvios, mas nas entrelinhas. Acompanhar o desenvolvimento do personagem enquanto se adapta à sua nova realidade, já é o ponto de partida.

Os movimentos do Aranha são fluidos, concisos. Não há exagero nos efeitos especiais, que são bastante impressionantes, e o CGI, tão em voga em qualquer arrasa-quarteirão, é usado à favor da grandeza que o herói representa, inclusive entregando interessantes sequências em primeira pessoa.
As cenas de ação são equilibradas. Nada entregue é gratuito, embora não escapando do clichê em certos momentos. Infelizmente, a trilha sonora de James Horner é esquecível se comparada a de Danny Elfman, da trilogia anterior.

O roteiro, escrito por James Vanderbit (Zodíaco) e revisado por Alvin Sergeant (Homem-Aranha 2 e 3) e Steve Kloves (parte da série Harry Potter), derrapa algumas vezes, mas se mantém seguro e conciso no geral.

O Homem-Aranha é apenas um cara que quer consertar um dos erros de sua vida e ganhar o coração da garota pela qual é apaixonado. Mesmo sob a máscara, ele não perde sua inocência. Poderia ser qualquer pessoa. Ou a história de qualquer pessoa.


No fim, os erros e acertos pertecem a Marc Webb. O diretor imprime seu estilo em um blockbuster e contorna tranquilamente os furos do script empregando uma carga de veracidade e paixão tamanha que tem tudo para superar a trilogia anterior. 

O trio Weeb-Garfield-Stone segue à risca o aforismo de Kureishi. O trunfo de O Espetacular Homem-Aranha reside justamente em sua honestidade. Que venham as continuações.


O Espetacular  Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, EUA - 136 minutos). Nota: 4,5/5

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Desenhos animados consolidam uma tradição cinematográfica de gente grande


Sempre gostei de assistir desenhos animados na televisão. Mesmo atualmente, aos 24 anos, prefiro um bom desenho a quase todo o restante da grade de TV aberta no Brasil. No entanto, em relação ao cinema, sempre vi a animação como um aspecto secundário da sétima arte. Foi aí que me enganei. A evolução dos longa-metragens de animação nos últimos é incrível e tem nos dado filmes com uma sensibilidade incomparável.

A riqueza da linguagem e o apuro técnico cada vez mais sofisticado fornece a estas obras o status de arte superior (além do inquestionável poder comercial). A empresa toda-poderosa deste setor é historicamente The Walt Disney, o gigantesco conglomerado de mídia e entretenimento, fundado em 1923. São incontáveis as obras de sucesso deste estúdio e é necessário ao menos lembrar algumas que estão na história de cada um, cinéfilo ou não, que ler este texto: "Branca de Neve e os Sete Anões", "Cinderela", "Fantasia", "Alice no país das maravilhas", "Peter Pan", "A bela adormecida", "Aladdin", "O Rei Leão",...



No entanto, nos últimos 14 anos quem domina o setor é o grupo empresarial - ligado à Disney e depois comprado por ela - criado por George Lucas, em 1986, através da Lucasfilm, com apoio financeiro de Steve Jobs, a Pixar Animation Studios. A Pixar surgiu arrasadora com o sucesso absoluto de crítica e bilheteria Toy Story (1995). Junto com a Dreamworks, a força das produções em desenho animado da Pixar presionou a Academia para a criação do Oscar de Melhor Filme (longa-metragem) de Animação*. A primeira participação desta categoria na maior cerimônia de premiação do cinema mundial ocorreu em 2002, tendo como vencedor o adorável ogro Shrek (Dreamworks).

De lá para cá, a Pixar "dominou geral" e venceu seis das 10 premiações. Os vencedores são os arrasa-quarteirões: "Procurando Nemo", "Os incríveis", "Ratatouille", "Wall-E", "UP-Altas aventuras" e "Toy Story 3". É claro que não pretendo limitar as boas produções cinematográficas de animação aos filmes da Pixar, mas há de se convir que a empresa mudou a forma como assistimos desenhos e ampliou muito o alcance destas obras.

Mas neste papo de gigantes norte-americanos, quero salientar a existência de um filme inteligente, doce e inesquecível, mas diferente. "A viagem de Chihiro" é uma animação japonesa de 2001 dirigida por Hayao Miyazaki e produzida pelo Studio Ghibli. Vencedor do Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 2002, e do Oscar de Melhor Animação em 2003, "A viagem..." representa uma estética peculiar - para os ocidentais - com uma narrativa complexa e acurada, mas absolutamente universal e encantadora. (Detalhe importante, em vários países do mundo, este filme foi distribuído adivinha por quem? Walt Disney Studio!).



E ainda quero reservar um espaço destacado para falar de "Wall-E" e "Toy Store 3". O primeiro é um caso à parte na história recente do cinema. A desconfiança que senti nos primeiros minutos de quase total silêncio se dissiparam rapidamente. Fiquei surpresa ao me encantar gradativamente com roteiro e direção, cujos responsáveis foram Andrew Stanton e Jim Reardon, de extrema qualidade. É um filme incrível, emocionante, baseado em uma premissa difícil de se comprar à primeira leitura**.

O fenômeno "Toy Story 3" é outro caso interessante. O terceiro filme de uma franquia bem-sucedida se saiu ainda melhor do que seus pares, acontecimento raro no que diz respeito a sequências. Um filme "de criança" que fez muito marmanjo chorar com um forte apelo à nostalgia que sentimos quanto às vivências da infância e as mudanças de prioridade com o passar do tempo.





Esta postagem vem a calhar ainda porque este ano o festival brasileiro Anima Mundi completa 20 anos de existência. O Festival Internacional de Animação ocorre anualmente no mês de julho no Rio e em São Paulo e trata-se do maior da América Latina. Durante o festival são exibidos curtas, médias e longas-metragens, seriados e comerciais. As linguagens narrativas e técnicas são as mais variadas e o festival não exige nenhum critério específico.

Assista ao trailer do vencedor do último festival:



*Na cerimônia do Oscar, contamos com a premiação de Melhor Curta-Metragem de Animação desde 1932. Predominam na lista de vencedores desde então a já citada Disney, a Metro-Goldwyn-Mayer (Tom & Jerry) e a Warner Bros.

**Em 2700, a Terra não é mais habitada por humanos, que agora vivem na nave Axiom. O planeta foi transformado em um imenso depósito de lixo, e os homens ainda tinham a esperança de conseguir limpar nosso mundo quando decidiram contratar a empresa Buynlarge Corporation, encarregada de limpar a Terra. Para isso, enviou milhares de robôs programados para coletar o lixo. Mas essas máquinas não deram conta da tarefa e começaram a pifar, até que apenas uma restou, Wall-E. Todos os dias, sua rotina é catar o lixo que encontra pela frente a fim de cumprir a improvável tarefa de limpar o planeta. A vida do robô toma um novo rumo quando uma nave pousa na Terra e dela sai Eva, uma nova robozinha.

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As visões de Grimes

Grimes é o projeto de uma mulher só. A jovem canadense Claire Boucher, 24 anos, começou a se interessar por música eletrônica enquanto estava na faculdade, em Montreal. Rapidamente começou a gravar sons experimentais e imergir na cena de sua cidade. Em outro salto, Grimes gravou seu primeiro álbum e contabiliza três no currículo. O último, Visions, primeiro assinado por uma gravadora, foi lançado em janeiro deste ano.


Para compor o disco, Boucher ficou 9 dias isolada e relatou que, após o período, todas as canções tomaram forma e foram levemente lapidadas. Mesmo com dicas e dicas de amigos e o hype da imprensa estrangeira (melhor desconfiar), demorei para chegar até Grimes. Deveria ter feito isso antes. Se você está lendo isso, pode ir na fé.


Grimes se parece com um monte de coisas que nós já ouvimos. Todas as influências aparentes (eletro, r'n'b, j-pop, dream pop) se unem e a sensação de frescor é clara: estamos diante de algo novo. Mesmo com esse leque vasto, o disco é extremamente coeso. Músicas para pistas de dança? Estão lá. Músicas para viajar? Estão lá. Para dançar e viajar? Também. 

A voz de Boucher está nas entrelinhas, conduzindo ou fazendo cama para as batidas e os sintetizadores. Funciona e aí está a diferença. Como artistas de vozes únicas, ou você gosta muito ou odeia. As visões de Grimes são tortuosas algumas vezes, desfocadas em outras mas, principalmente, arrebatadoras. Vale a viagem.

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Aproveite a Internet: Filmes completos no YouTube


O YouTube vai muito além dos cinco segundos intermináveis que representam aquele pedaço de publicidade que não conseguimos ignorar. Assim como na Internet como um todo, neste site existe uma quantidade de informações ad infinitum, é só procurar. Este post é um serviço de utilidade pública. Não falarei nenhuma grande novidade, mas é uma coisa importante a se ressaltar.

Os milhares de recursos dos quais a Internet dispõe muitas vezes são subutilizados por nós, que passamos algumas horas nas mídias sociais e outras tantas fazendo absolutamente nada. Mas como navegar na web - expressão um tanto século XX - é uma das coisas que mais fazemos durante os momentos de folga, vamos tentar aproveitar um pouco melhor nossos preciosos minutos. Gosto de usar o termo "otimizar nosso tempo".

No YouTube é possível assistir a diversos filmes na íntegra. Uma busca simples como "filmes clássicos completos" nos fornece uma lista de obras-primas da história do cinema, principalmente para aqueles que gostam de estudar a área e querem conhecer filmes diversos sem precisar baixar ou comprar todos. Esta que vos escreve assistiu obras como "Viagem à lua" (George Méliès), "O gabinete do Dr. Caligari" (Robert Wiene) e "Farenheit 451" (François Truffaut) desta maneira e com ótima qualidade.

Um exemplo do que digo, nosso vencedor da Palma de Ouro "O pagador de promessas" completo!



Não vou destrinchar a questão de direitos autorais, mesmo porque acredito que a exibição particular desta maneira não vai deixar nenhum realizador do cinema na miséria. É apenas nova uma forma de disseminação de cultura, na minha opinião, quando não se trata de comercialização. Mas há algumas coisas que são de domínio público e não há porque sentir dor na consciência.

No entanto, muitos filmes relativamente recentes também estão disponíveis. Não digo que todos vão conseguir achar qualquer filme que vier à cabeça, mas há muita coisa interessante para ser vista. As buscas podem ser feitas usando seu estilo de filme favorito, "filmes suspense completos", por exemplo, e identificando o tipo de áudio favorito, "filmes completos legendados", o que é o meu caso. Então, sigam em frente. Vamos desbravar este emaranhado de informações, que pode ser tão inútil quanto maravilhoso!

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O desgaste da trilha sonora de "O fabuloso destino de Amélie Poulain"


"O fabuloso destino de Amélie Poulain" tem uma das melhores trilhas sonoras do cinema moderno. Muitos vão dizer que estou exagerando, mas nem ligo. Eu realmente acredito que as doces composições do francês Yann Tiersen - que também é responsável pela seleção musical de "Adeus, Lênin" - integram uma seleção incrível, que emociona de verdade.

Dito isto, vem a TV Globo e usa a canção "Comptine d'un autre été: l'après-midi" (em tradução literal, "Rima de um outro verão: à tarde") como tema de uma personagem da pior novela dos últimos tempos: "Morde e assopra". Só para relembrar, trata-se da narrativa que misturava dinossauros, robôs, caipiras e paleontólogos em um emaranhado de tosqueiras e situações nonsenses que foi exibida em 2011 (e precisou ser encurtada porque ninguém assitia).

Mas não para por aí. Entre Big Brothers e Globo Esporte, já ouvi a valsinha da Amélie (La valse d'Amélie) tocando fora de contexto diversas vezes. Não estou dizendo que é proibido o uso das músicas - quem sou eu, afinal -, mas apenas confessando que sempre penso: "WTF?". Pode ser frescura, mas que me dá nervoso, isso dá...

A quem não assistiu ou não lembra, segue o vídeo com as músicas citadas:



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Brasil: o país da cultura em segundo plano


Duas notícias recentes chamam a atenção para a maneira como a cultura - no caso da abordagem do Cinemusique, especialmente o cinema - é tratada no Brasil. Em abril deste ano, vimos uma matéria de O Globo falar sobre a reconstrução super lenta pela qual passa o Centro de Artes da UFF, local onde vivenciei o crescimento da minha paixão pelo cinema e pelos filmes fora do circuito estreito que costuma passar pelos cinemas de Niterói, onde moro.

A reforma do espaço começou em 2009 e tem previsão para terminar apenas em 2013. Ou seja, são quatro anos de obras em um espaço relativamente pequeno. Neste mesmo período, um incontável número de condomínios brotou no território da cidade inchando seu trânsito sem nenhum tipo de planejamento ou organização. Esta demora seria justificada por causa de uma "mina de água encontrada no subsolo do terreno", afirmou o reitor da UFF, Roberto Salles, em entrevista ao Globo. Sério? Pra mim, não.

Com a tela de projeção ao fundo, vemos o triste cenário do atraso nas obras do Cine Arte Uff
Com a tela de projeção ao fundo, vemos o triste cenário do atraso nas obras do Cine Arte Uff
Nem vou entrar no mérito do investimento público e na comum morosidade de toda e qualquer obra que não tenha fins exclusivamente relacionados a eleições e a vantagens políticas diretas. E espero de todo o coração que o (novo) prazo seja cumprido. Mas acho este tópico eficaz no que diz respeito a ilustrar como a cultura sempre fica em segundo plano.

Ainda no mês de abril, mais uma notícia ruim para o universo do cinema - e para os cinéfilos e geral -. O cancelamento do Festival de Paulínia, cujas edições desde 2008 vinham consolidando um importante polo para a produção de cineastas brasileiros e para a discussão da sétima arte, é lamentável. A primeira coisa que vem à cabeça é o amadorismo que tanto assombra o mercado de cinema nacional. Dói pensar assim, mas ainda somos amadores nesta área. Não digo isto dos criadores e artistas envolvidos que vêm provando que podemos dialogar em pé de igualdade com qualquer país. Mas sim da estrutura comercial.

A justificativa oferecida pelo prefeito da cidade paulista, José Pavan Jr. (PSB), é de que é necessário conter despesas. O dinheiro que seria investido no festival será revertido a causas sociais. Sério? Reitero, para mim, não. Existe ainda o problema com os patrocínios, pois a instabilidade do compromisso das empresas do país com a arte em geral, quase sempre vista como marginal e menos importante, é evidente. Temos ainda a complexa e polêmica Lei do Audiovisual (Rouanet). A lei (ligeiramente burra em seu texto e execução) carece de simplicidade e objetividade.

Fazer cinema do Brasil continua sendo ir contra a maré. Este é apenas um reflexo da maneira como a cultura em geral é vista no país: um apêndice. Um enfeite que tem que surgir do lixo com força sobre-humana, fazer sucesso fora do país para depois, talvez, ser valorizada por aqui. Afinal de contas, o desleixo com a cultura é um problema cultural.

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