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Brasil: o país da cultura em segundo plano


Duas notícias recentes chamam a atenção para a maneira como a cultura - no caso da abordagem do Cinemusique, especialmente o cinema - é tratada no Brasil. Em abril deste ano, vimos uma matéria de O Globo falar sobre a reconstrução super lenta pela qual passa o Centro de Artes da UFF, local onde vivenciei o crescimento da minha paixão pelo cinema e pelos filmes fora do circuito estreito que costuma passar pelos cinemas de Niterói, onde moro.

A reforma do espaço começou em 2009 e tem previsão para terminar apenas em 2013. Ou seja, são quatro anos de obras em um espaço relativamente pequeno. Neste mesmo período, um incontável número de condomínios brotou no território da cidade inchando seu trânsito sem nenhum tipo de planejamento ou organização. Esta demora seria justificada por causa de uma "mina de água encontrada no subsolo do terreno", afirmou o reitor da UFF, Roberto Salles, em entrevista ao Globo. Sério? Pra mim, não.

Com a tela de projeção ao fundo, vemos o triste cenário do atraso nas obras do Cine Arte Uff
Com a tela de projeção ao fundo, vemos o triste cenário do atraso nas obras do Cine Arte Uff
Nem vou entrar no mérito do investimento público e na comum morosidade de toda e qualquer obra que não tenha fins exclusivamente relacionados a eleições e a vantagens políticas diretas. E espero de todo o coração que o (novo) prazo seja cumprido. Mas acho este tópico eficaz no que diz respeito a ilustrar como a cultura sempre fica em segundo plano.

Ainda no mês de abril, mais uma notícia ruim para o universo do cinema - e para os cinéfilos e geral -. O cancelamento do Festival de Paulínia, cujas edições desde 2008 vinham consolidando um importante polo para a produção de cineastas brasileiros e para a discussão da sétima arte, é lamentável. A primeira coisa que vem à cabeça é o amadorismo que tanto assombra o mercado de cinema nacional. Dói pensar assim, mas ainda somos amadores nesta área. Não digo isto dos criadores e artistas envolvidos que vêm provando que podemos dialogar em pé de igualdade com qualquer país. Mas sim da estrutura comercial.

A justificativa oferecida pelo prefeito da cidade paulista, José Pavan Jr. (PSB), é de que é necessário conter despesas. O dinheiro que seria investido no festival será revertido a causas sociais. Sério? Reitero, para mim, não. Existe ainda o problema com os patrocínios, pois a instabilidade do compromisso das empresas do país com a arte em geral, quase sempre vista como marginal e menos importante, é evidente. Temos ainda a complexa e polêmica Lei do Audiovisual (Rouanet). A lei (ligeiramente burra em seu texto e execução) carece de simplicidade e objetividade.

Fazer cinema do Brasil continua sendo ir contra a maré. Este é apenas um reflexo da maneira como a cultura em geral é vista no país: um apêndice. Um enfeite que tem que surgir do lixo com força sobre-humana, fazer sucesso fora do país para depois, talvez, ser valorizada por aqui. Afinal de contas, o desleixo com a cultura é um problema cultural.

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