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Pequenos tesouros #2: Drive

Drive, filme de 2011 do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn é baseado no livro do escritor James Sallis, publicado em 2005. Em cada fotograma é uma obra-tributo a, principalmente, um tipo de personagem ou arquétipo de Hollywood: o homem sem nome, de poucas palavras e olhar vago que, no final, se torna um herói e salva o dia geralmente sacrificando algo (sua liberdade, seu futuro ou mesmo sua vida).

Muitos atores graúdos já interpretaram tais figuras: Lee Marvin, Ryan O'Neal, Steve Mcqueen e Clint Eastwood, este com mais destaque na famosa Trilogia de Sergio Leone. Entre caubóis, matadores de aluguel e ladrões, o motorista encontra seu espaço na galeria por meio de Ryan Gosling. O próprio O'Neal interpretou um semelhante em The Driver, de Walter Hill, uma das fitas que serviram de inspiração para Drive.

Mas a película não fica só na homenagem, sendo um exercício de estilo revigorante do gênero. Há momentos de ação e perseguição permeados por constante tensão, que ficam em segundo plano mediante ao ritmo controlado imposto pelo diretor desde o início, com a sequência de fuga mostrada como um jogo de gato e rato. Era possível recorrer a uma abordagem clássica e dar o que a audiência esperava , mas Winding Refn prefere entregar ao espectador quem é o personagem atrás do volante.

É preciso frisar que o diretor presta reverência à Hollywood, temos um dublê como protagonista, além de mecânico de dia e piloto de fuga à noite, agindo para quem pagar o preço, sob rígidas regras de conduta.

Quando conhece e se apaixona gradualmente (mas rapidamente) pela garçonete Irene (Carey Mulligan, em atuação discreta), que cuida do filho Benício, fruto de seu relacionamento com Standard (Oscar Isaacs, competente), que está preso, somos levados à jornada de redenção e desconstrução da moral do Motorista.

Quando decide ajudar Standard a se livrar de uma dívida com criminosos, começa o primeiro conflito do protagonista, ainda que opaco. A recusa de um trabalho a um desconhecido seria o rompimento óbvio com o universo que o Motorista gravitava.

Paralelamente, para ajudar Shannon (O ótimo Bryan Cranston) o dono da oficina mecânica, se envolve em um projeto com os mafiosos, não por acaso, judeus, Nino (Ron Perlman, confortável) e Bernie Rose (Albert Brooks, o grande injustiçado no Oscar do ano passado).

Daí em diante, Drive se desenvolve acompanhando o herói que muda sua moral enquanto perde o controle das situações ao redor, amparado pela mão segura de Winding Refn, até a reviravolta na memorável e bela cena do elevador. Muda-se a moral, mas não a natureza. A jaqueta de escorpião não é mero objeto, afinal de contas.

Tecnicamente, Drive não é perfeito e nem almeja a condição. Se a intenção é fazer justiça à produções semelhantes do passado, entrega um misto interessante de iconografia clássica com a paixão pelos anos 80, sem enxergar a década como uma Festa Ploc. As luzes, muitas, a trilha sonora (excelente), os diálogos controlados.

Entre a celebração da estética e um roteiro puramente simples, temos um grande filme, daqueles que ocupam as lembranças para além de sua época.

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