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E quando o sexo é reducionista?

O sexo no cinema é um assunto que dá pano para manga. Dificilmente, o tema está completamente ausente de algum filme. Seja em forma de piadas, insinuações, mentalizações, ou efetivamente em cenas coreografadas e feitas para mexer com a libido dos espectadores. Eu arrisco dizer que a relação sexual está presente em 90% das produções cinematográficas de todo o mundo de alguma maneira.

Até aí, não há nada demais. Afinal, é algo concernente à natureza humana e é disso que os filmes tratam. Acontece que o sexo é impulso, assim como a violência - é só lembrar dos instintos de vida e de morte freudianos. A atração gerada por estes temas é algo praticamente incontrolável, um nível abaixo (ou acima, depende do ponto de vista) de emoções mais elaboradas, que surgem a partir de um repertório da vida.

Cena de 'Má Educação', com Enrique (Fele Martínez) e Ignacio (Gael García Bernal)
É claro que existe uma lista enorme de filmes que souberam usar este tipo de estímulo para contar uma história de forma magistral. E é claro, da mesma forma, que existem filmes que não tem interesse em contar história alguma, pois esta é o pano de fundo para o que realmente os interessa: as cenas de sexo. Na primeira categoria, posso destacar os excelentes "E sua mãe também", "Má educação" (Almodóvar), "Namorados para sempre" (Derek Cianfrance), entre centenas de outros. Já na segunda, temos os soft porn nível Emmanuelle, e outros (milhares) que mascaram seus objetivos voyeristas em uma trama "dramática".

Podemos colocar nesta segunda lista quase toda a produção das pornochachadas brasileiras, mas não é somente no Brasil que isto ocorre. Para ilustrar o que quero dizer com a postagem, vou usar a produção britânica "9 canções". Sua história gira em torno das lembranças de um climatólogo sobre um relacionamento com uma estudante norte-americana durante um festival de rock em Londres.


As cenas explícitas de sexo são várias durante a narrativa. Que fique claro que não sou moralista e sei que o mercado é forte para produções deste tipo. O que quero dizer é que (se preparem para a metáfora) o sexo em "excesso" para um filme é como eucalipto em uma plantação. Não há espaço para nenhuma outra emoção. No caso do citado filme, por exemplo, as músicas se tornam esquecíveis e descaracterizam o próprio título. Torna-se um filme feito para excitar, o que não é necessariamente negativo quando é o que o público busca, mas é reducionista. Como o próprio trailer do filme ressalta é um "cinema sensação", mas vazio de sentido.

Na Internet, uma rápida busca sobre o filme, nos traz uma série de afirmações que apontam para toda a sexualidade e como ele é inovador no realismo nas cenas. E só. É tratado como uma obra de teor erótico rico - o que não é possível negar - e compartilhada como pornografia em diversos sites de origem duvidosa. É vazio, limitador. O diretor Michael Winterbottom construiu uma obra experimental que quando sai da cama perde o sentido. Assim como diversas outras.

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2 comentários:

Wedis disse...

os diretores, ou sei lá quem cria as cenas, estragam os filmes com tantas insinuações ao sexo. Um exemplo recente que eu me decepcionei muito foi o filme Antes do pôr do sol. O filme trata do reencontro de duas pessoas que se amam e que passaram anos separados. O filme é apenas eles conversando sobre o tempo que ficaram distantes e essa conversa é toda direcionado ao sexo. Mesmo quando eles estão falando sobre um assunto que não tem nada a ver, eles dão um jeito de colocar sexo no meio. O sexo ta muito impregnado em tudo. Até quando a gente vai ver um filme que tem tudo para ser bonito, ele está lá para estragar.

Tamyres Matos disse...

Não acho que abordar o sexo, assim como as pessoas fazem na vida real, estrague o que há de bonito, principalmente quando o assunto é amor, que está diretamente ligado à atração sexual. O que critico são os exageros e quando o sexo toma o lugar da história como fator mais importante.

Neste exemplo citado, por exemplo, super discordo. É claro que sexo é parte do assunto entre o casal que se reencontra depois de 9 anos, mas jamais ele toma um papel mais importante que o todo. Acho o texto tão bem arrumado, não consigo ver nada fora do lugar em "Antes do pôr do sol".

E, por fim, sim, o sexo está impregnado em tudo (é natural, como eu disse), resta aos diretores trabalhar isto de forma sutil e interessante.