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DA SÉRIE CLÁSSICOS: A Regra do Jogo, Jean Renoir

O filme é daqueles para não se esquecer nunca mais. Como muitos críticos sabiam antes de mim é definitivamente um clássico, considerado um dos dez melhores filmes da história do cinema (apesar de eu não acreditar neste tipo de ranking, é um dado valioso). A narrativa é uma crítica brilhante à sociedade européia antes da Segunda Guerra Mundial, só que com um humor que torna quase todos os personagens caricaturas. Jean Renoir é daqueles diretores que parecem estar com uma inspiração divina no momento de construir os planos de filmagem e ordenar os diálogos. Sabe aquelas frases consideradas lapidares e que viram representantes de um período da história? Ele consegue isso e mais. Faz os espectadores darem gargalhadas com diálogos e situações absurdas e divertidas.


Com um discurso moral muito à frente de sua época – o filme seria inovador até hoje, a história aborda exatamente o que diz o título “as regras do jogo”. Tenta explicitar como funcionam os mecanismos para uma convivência “de classe” entre homens e mulheres, marido e esposa, e patrões e empregados. A sinopse é a seguinte: “O aviador André Jurieux bateu recordes de vôo, mas só consegue pensar em sua amada Christine, mulher do aristocrata Robert de la Cheyniest. Jurieux consegue com um amigo um convite para a casa de campo em que o casal está dando uma grande festa de caça. Os sorrisos cordiais dos convidados escondem, porém, segredos e sentimentos, e o resultado disso é um assassinato”. Como toda sinopse que se preze não diz quase nada e ainda conta o final do filme.


Uma das frases marcantes da brilhante construção textual é da personagem Geneviève. A amante do Marquês Robert de la Cheyniest ao se deparar com seu desprezo solta: “Luta-se contra o ódio, nunca contra o tédio”. No decorrer da trama, se desenrola um jogo sórdido de aparências e “pasteladas”. Um senhor nobre e distraído, presente à festa na casa do casal central, representa o elo que amarra o enredo. Quando Christine disfarça seu antigo romance com o aviador, no início da festa, ele dispara: “Ela é uma mulher de classe”.

Um dos grandes momentos é o diálogo entre a esposa e a amante do marquês. Depois de soltar uma série de declarações ardilosas e tensas, Christine diz que “gente sincera demais atrapalha”, se referindo ao seu antigo amor, André. É importante chamar a atenção para a forma estereotipada como são construídos os personagens. Temos o alemão nervoso e violento, mas passado para trás. Quase todas as mulheres têm um tipo de histeria exagerada. O empregado servil. O malandro impagável de nome Merceau, suas expressões faciais e frases de deboche são divinamente engraçadas.


Em um jogo onde segundo seus próprios jogadores afirmam que “todo mundo mente”, conseguimos observar o drama de um herói que tenta seguir regras, que não as do fingimento. O amor que ele sente acaba se tornando pequeno diante das argúcias demonstradas por cada um dos joueurs. A frase final sentencia, ao ver as mentiras do marquês encobrindo o assassinato, o mesmo senhor nobre e distraído reitera: “Ele é um homem de classe”. Este sim, é um filme de muita classe.

Desolé pour la digression...

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2 comentários:

Anônimo disse...

Eu classifico o filme como uma comédia. Mas, como você mesmo diz Thamires, é dificl enquadrar um filme em um só estilo.

É bom ver filmes assim, que fazem uma crítica legal a alguma coisa, sem serem chatos e sem serem de mal gosto.

Gostei bastante do filme e da sua crítica.

Wedis

Anônimo disse...

O filme é uma comédia de costumes carimbada pelo talento de Jean Renoir, cuja pincelada, longe da ênfase, nos dá a sugestão. Como numa aquarela, em que o cromatismo vai se tecendo sutilmente, o filme é primoroso na condução do rítmo (imprescindível na tradição do gênero surgido com Moliere) e da interpretação dos atores (já no registro naturalista, não tão carregado).

Ricardo Tavares
http://ricardotavarez.blogspot.com/