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Ficção em decadência?

As últimas produções mais rentáveis do cinema brasileiro foram cinebiografias. Poderia dar vários exemplos, porém cito dois que para mim são antagônicos: Cazuza e Dois Filhos de Francisco. O primeiro é um filme intenso que fala sobre um ídolo da MPB e do rock brasileiro. Com uma narrativa ritmada, o roteiro não trata o cantor como uma vítima do destino. Ele é alvo de um problema que atingiu (e atinge) milhões de pessoas no mundo, sofreu, mas também é mostrado como agente do próprio mal. Digamos que escolhas pessoais "exageradas" levaram ao seu fim. Ninguém termina de assistir ao filme considerando-o algum tipo de coitadinho, mas se emociona com um artista intenso, maluco, incoerente e, acima de tudo, humano. Quando assisti ao último senti sono. Não nego que a história de vida da dupla sertaneja seja de luta e superação. Porém como cinema é tudo muito sonolento. Segue aqueles passos óbvios de filmes com heróis populares. As tristezas e perdas no começo, os conflitos para ascensão no meio e a consagração no fim. Chamaria de monótono. Mas esta é uma opinião estritamente minha, já que o longa foi sucesso de público e crítica.

A grande questão é que não acredito que a ficção tenha se esvaziado. Essa é uma tese de um dos diretores de "Simonal - Ninguém sabe o duro que eu dei" – que mesmo baseada em dados recentes – é impossível de ser comprovada. Primeiro: fazer cinema no Brasil não é nada, mas nada mesmo, fácil. Além da polêmica questão do financiamento público, a complexa estrutura e inconstância da lei Rouanet, a burocracia dos patrocínios particulares e a panelinha Globofilmes. Recuso-me a acreditar que os diretores e roteiristas brasileiros não tenham talento suficiente para escapar a qualquer tipo de amarra imposta pela crise de público presente nas salas de cinema pelo país. Temos Jorge Furtado, Guel Arraes, Lucia Murat, Sandra Werneck (que circula entre a ficção e a “realidade” com talento), Fernando Meirelles, entre muitos outros que podem desmentir esta premissa. Após uma detalhada pesquisa, tratarei mais adequadamente sobre o assunto.

Desolé pour la digression...

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1 comentários:

Igor Mello disse...

Grande texto, filha. Grande texto.

Acho que isso é cíclico, de tempos em tempos temos essa profusão de histórias reais. Há ainda a tradição do nosso cinema, que alcança seus melhores momentos quando fala de "realidade" ou quando adapta algo da literatura, em geral.

Por último, é preciso lembrar da questão comercial, né? Filme sobre Cazuza ou Zezé di Camargo (o Luciano é mero coadjuvante até no filme, hehehe) são barbadas.

P.S. - Eu achei "Dois Filhos de Francisco" muito melhor que "Cazuza". Na verdade, minhas impressões foram o oposto das suas...

Beijo, filha! Saudadona!