Tenho problema com rótulos. Rótulos destroem nosso senso de observação ao falsamente facilitar a opinião que formamos sobre as coisas (ou seja, só pode funcionar bem no supermercado mesmo). No que diz respeito à arte, os rótulos atrapalham... e muito. Por exemplo, quando termino de assistir um filme que adoro e alguém me questiona: “qual o tipo de filme?” Chega a dar uma dor no coração. E para terminar de me apunhalar, depois de ouvir minha sofrida resposta carimbada (romance, drama, comédia) recebo a réplica: “não gosto desse tipo de filme”. Como assim?
Cinema é mais do que isso. É sensação, identificação, trilha sonora, fotografia, roteiro, locação, figurino, atuação... A quantidade de profissionais e áreas envolvidos nesse trabalho é imensa. Não dá para restringir desta forma. Acredito que quando é muito fácil determinar a que tipo de filme pertence uma produção de cinema é porque ela é limitada. Procura uma fórmula fácil para vender e agradar aos aficionados (vide 99% dos filmes de terror).
Agora, o pior dos rótulos é aqueles que diz respeito à baixa auto-estima cinematográfica do brasileiro. Essa que resolve enquadrar todas as produções realizadas no Brasil em um mesmo “balaio”. Uma forte irritação sobe pela minha espinha dorsal quando ouço afirmações do tipo: “Ai, não consigo gostar de filme brasileiro. Assisti Cidade Baixa (por exemplo), só tem sexo e palavrão”. Ok. Primeiro ponto, todos têm direito a gostar ou não do filme que for, mas toda a produção de um país não pode pagar pelo pouco conhecimento que cada um tem do próprio cinema. Segundo, sexo e palavrão está presente de forma ostensiva em grande parte do cinema em todo o mundo (o que existe é uma “maquiagem” melhor e uma dublagem ou legenda muito ruim). Terceiro e último ponto, os elementos de um filme (seja sexo, humor, drama, sustos) podem ser mau ou bem utilizados. Desqualificar um filme por uma característica natural é extremamente bobo, limitado.
Cinema é muito mais do que isso. São pessoas com vocação artística (ou não) que colocam seus corações e mentes a serviço de uma obra de arte. É importante ressaltar que estou falando do cinema de verdade e não de oportunistas. Um trabalho que leva a sério o público, os valores profissionais (ou artísticos, se for melhor), as visões de mundo. Quando nos postamos em frente a um telão, ou à televisão, ou à tela de computador, para vermos uma produção cinematográfica, precisamos nos entregar um pouco ao momento. Abrir a possibilidade de sermos conquistados por algo que vai além de duas horas de exibição, que influencia nosso desenvolvimento como seres pensantes e vivos.
Desolé...